Autor: Chinua Achebe
Nº de páginas: 240
Editora: Companhia
das Letras
Série/Saga: Trilogia
Africana
Nota: 5/5
“Demonstrar afeição era sinal de fraqueza; a única coisa que valia a pena mostrar era a força.” P. 48
Chinua
Achebe é um dos autores africanos mais importantes da
contemporaneidade. É certamente o autor nigeriano de maior destaque. O mundo se
despedaça (1958) é o primeiro livro do autor, e inaugura a Trilogia Africana,
seguida por A flecha de deus (vencedor do Man Brooker Prize) e A paz dura
pouco, ambos publicados pela Companhia das Letras.
O
que faz Achebe é contar a história do colonizado; como a chegada do homem
branco impacta a sociedade já existente com seus costumes, leis e regras. Para
tanto, o leitor é levado a Umuófia, terra do guerreiro Okonkwo.
Em
Umuófia um homem se faz grande pelo que herda de seu pai, ou com o que constrói
com seu próprio trabalho. Para Okonkwo tudo que ele alcançou foi fruto de seu
esforço - não havia o que herdar da figura prostrada do pai. Assim, a trajetória de Okonkuo é dura, ele partiu de
um ponto baixo, mas com sede de galgar posições em seu clã ele fez tudo que
estava a seu alcance. E logrou sucesso.
Ainda
muito jovem ele se destaca como grande lutador, seguidamente constitui uma
grande família, três mulheres, muitos filhos, e um compound (conjunto habitacional) grande, bem como uma produtiva plantação
de inhame – significado de status em
seu clã.
Dessa
forma, Okonkuo torna-se grande entre os seus. Mas seu temperamento tempestuoso,
a ira incontrolável, lhe acarreta problemas. Em Umuófia não importa o título,
estão todos sujeitos as normas da tradição. E quando depois de um acesso de
fúria Okonkuo desrespeita uma regra, começam seus problemas. Para agravar
terminantemente sua situação, um acidente em que ele se envolve acaba por levá-lo
ao exílio. Obrigando o jovem guerreiro há passar sete anos na aldeia de sua
mãe.
O
exílio de Okonkuo coincide com a chegada de um corpo estranho a sua sociedade,
o homem branco. E quando finalmente retorna a sua terra, Umuófia já não é mais
a mesma. O homem brando já colocara em exercício sua máquina de dominação, o
mundo de Okonkuo se despedaça.
Esse
é o panorama da obra de Achebe. O clímax ocorre quando da chega do homem
brando, contudo, antes, é preciso conhecer a sociedade em que se assenta
Okonkuo, para só então entender as rupturas que nela se processarão.
Umuófia,
especialmente, e as demais aldeias vizinhas, seguem uma tradição antiguíssima.
Ali parece que as coisas sempre foram como são, e assim devem continuar sendo.
O apego à tradição, o politeísmo, a sociedade rigidamente patriarcal, oligarca,
e, mesmo, estratificada. Na qual, a ascensão de um homem está intimamente
ligada a sua capacidade de adquirir títulos, por meio de suas posses, e, por
extensão, de seu trabalho. A competitividade é algo inerente.
Soma-se
ao trabalho de resgate tradicional de Achebe, a inegável qualidade de sua
prosa. Em que ele transfere os maneirismos dos discursos dos homens de Umuófia,
expresso pelo apego a eloquência, aos discursos acalorados, a utilização dos
provérbios. E como em toda boa história, é preciso um bom “herói”, e Okonkuo é
a escolha do autor.
Okonkuo
não é um homem mal, tampouco bom. Cresceu em meio a uma sociedade extremamente
competitiva, que exalta demonstrações de virilidade, e, sobre a sombra de um
pai que lhe envergonha. O medo do fracasso, de parecer com o pai, é um
constante em sua vida. Assim, Okonkuo faz do medo a sua força. E torna-se
também refém dela.
É
sobre a visão deste homem, em grande parte, que vemos a desintegração da
sociedade “primitiva”. A chegada do homem branco, com instituições, religiões e
regras estranhas ao hospedeiro, está no cerne da desconstrução corrente.
Executa-se um choque cultural.
O
encontro entre colonizado e colonizador encerra o volume, e neste título
inaugural Achebe mostra porque é tido em alto conceito entre os autores
africanos. Seu trabalho é de excelência.
“Okonkwo governava sua família com mão pesada. Suas esposas, principalmente as mais jovens, temiam constantemente seu temperamento violento, assim como os filhos menores. Talvez, no fundo do coração, Okonkwo não fosse um homem cruel. Mas toda a sua vida era dominada pelo medo, o medo do fracasso e da fraqueza. Era um medo mais profundo e mais íntimo do que o medo do mal, dos deuses caprichosos ou da magia, do que o medo da floresta e das forças malignas da natureza, de garras e dentes vermelhos. O medo de Okonkwo era maior que todos esses medos. Não se manifestava externamente; jazia no centro de seu ser. Era o medo de si próprio, de que afinal descobrissem que ele se parecia com o pai.” p. 33
Evellyn · 724 semanas atrás
E tb tem um filme que quero ver ^^
bjs
Juan Warley 71p · 724 semanas atrás
Kate · 724 semanas atrás
http://conversandocomdragoes.blogspot.com/
Lara · 724 semanas atrás
Juan Warley 71p · 724 semanas atrás
vanessa · 724 semanas atrás
Poxa que bacana suas novas aquisições, gostei. Sou louca pra ler esses livros da série Amanhã, parecem ser bons. Boa leitura e vou aguardar as resenhas (:
Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing
Regiane 55p · 723 semanas atrás
Beijinhos
Rê
Ler e Almejar