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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Mundo se Despedaça (Chinua Achebe)

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Autor: Chinua Achebe
Nº de páginas: 240
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: Trilogia Africana
Nota: 5/5

“Demonstrar afeição era sinal de fraqueza; a única coisa que valia a pena mostrar era a força.” P. 48
Chinua Achebe é um dos autores africanos mais importantes da contemporaneidade. É certamente o autor nigeriano de maior destaque. O mundo se despedaça (1958) é o primeiro livro do autor, e inaugura a Trilogia Africana, seguida por A flecha de deus (vencedor do Man Brooker Prize) e A paz dura pouco, ambos publicados pela Companhia das Letras. 

O que faz Achebe é contar a história do colonizado; como a chegada do homem branco impacta a sociedade já existente com seus costumes, leis e regras. Para tanto, o leitor é levado a Umuófia, terra do guerreiro Okonkwo.

Em Umuófia um homem se faz grande pelo que herda de seu pai, ou com o que constrói com seu próprio trabalho. Para Okonkwo tudo que ele alcançou foi fruto de seu esforço - não havia o que herdar da figura prostrada do pai. Assim, a  trajetória de Okonkuo é dura, ele partiu de um ponto baixo, mas com sede de galgar posições em seu clã ele fez tudo que estava a seu alcance. E logrou sucesso.

Ainda muito jovem ele se destaca como grande lutador, seguidamente constitui uma grande família, três mulheres, muitos filhos, e um compound (conjunto habitacional) grande, bem como uma produtiva plantação de inhame – significado de status em seu clã.

Dessa forma, Okonkuo torna-se grande entre os seus. Mas seu temperamento tempestuoso, a ira incontrolável, lhe acarreta problemas. Em Umuófia não importa o título, estão todos sujeitos as normas da tradição. E quando depois de um acesso de fúria Okonkuo desrespeita uma regra, começam seus problemas. Para agravar terminantemente sua situação, um acidente em que ele se envolve acaba por levá-lo ao exílio. Obrigando o jovem guerreiro há passar sete anos na aldeia de sua mãe.

O exílio de Okonkuo coincide com a chegada de um corpo estranho a sua sociedade, o homem branco. E quando finalmente retorna a sua terra, Umuófia já não é mais a mesma. O homem brando já colocara em exercício sua máquina de dominação, o mundo de Okonkuo se despedaça.

Esse é o panorama da obra de Achebe. O clímax ocorre quando da chega do homem brando, contudo, antes, é preciso conhecer a sociedade em que se assenta Okonkuo, para só então entender as rupturas que nela se processarão.

Umuófia, especialmente, e as demais aldeias vizinhas, seguem uma tradição antiguíssima. Ali parece que as coisas sempre foram como são, e assim devem continuar sendo. O apego à tradição, o politeísmo, a sociedade rigidamente patriarcal, oligarca, e, mesmo, estratificada. Na qual, a ascensão de um homem está intimamente ligada a sua capacidade de adquirir títulos, por meio de suas posses, e, por extensão, de seu trabalho. A competitividade é algo inerente.

Soma-se ao trabalho de resgate tradicional de Achebe, a inegável qualidade de sua prosa. Em que ele transfere os maneirismos dos discursos dos homens de Umuófia, expresso pelo apego a eloquência, aos discursos acalorados, a utilização dos provérbios. E como em toda boa história, é preciso um bom “herói”, e Okonkuo é a escolha do autor.

Okonkuo não é um homem mal, tampouco bom. Cresceu em meio a uma sociedade extremamente competitiva, que exalta demonstrações de virilidade, e, sobre a sombra de um pai que lhe envergonha. O medo do fracasso, de parecer com o pai, é um constante em sua vida. Assim, Okonkuo faz do medo a sua força. E torna-se também refém dela.

É sobre a visão deste homem, em grande parte, que vemos a desintegração da sociedade “primitiva”. A chegada do homem branco, com instituições, religiões e regras estranhas ao hospedeiro, está no cerne da desconstrução corrente. Executa-se um choque cultural.

O encontro entre colonizado e colonizador encerra o volume, e neste título inaugural Achebe mostra porque é tido em alto conceito entre os autores africanos. Seu trabalho é de excelência.

“Okonkwo governava sua família com mão pesada. Suas esposas, principalmente as mais jovens, temiam constantemente seu temperamento violento, assim como os filhos menores. Talvez, no fundo do coração, Okonkwo não fosse um homem cruel. Mas toda a sua vida era dominada pelo medo, o medo do fracasso e da fraqueza. Era um medo mais profundo e mais íntimo do que o medo do mal, dos deuses caprichosos ou da magia, do que o medo da floresta e das forças malignas da natureza, de garras e dentes vermelhos. O medo de Okonkwo era maior que todos esses medos. Não se manifestava externamente; jazia no centro de seu ser. Era o medo de si próprio, de que afinal descobrissem que ele se parecia com o pai.” p. 33
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