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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os Três (Sarah Lotz)

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Autor: Sarah Lotz
Nº de páginas: 400
Editora: Arqueiro
Série/Saga: -
Nota: 4/5













Quinta-Feira negra, este é um dia que ficará para sempre gravado na memória da humanidade. Quatro aviões caíram. Em quatro continentes diferentes, todas as aeronaves de marcas diferentes, e nenhum dos acidentes tem uma causa identificável. Três crianças sobreviveram. E um mulher conseguiu viver por tempo suficiente para mandar uma mensagem:
Eles estão aqui.
O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Pastor Len, avise a eles que o menino, não é para ele...
Pamela May Donald foi quem enviou essa mensagem por celular. E uma vez recebida, essa mensagem irá alterar o mundo.

Não bastante as circunstâncias misteriosas dos acidentes – eles caíram no Japão, Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul, este foi o único que não identificou sobreviventes – as crianças que sobreviveram saíram quase incólumes de tragédias que não deveriam permitir nenhum sobrevivente, é um milagre. Além disso, as crianças sobreviventes começam a apresentar comportamentos peculiares - para não falar em perturbador. Hiro, no Japão, Jess, na Inglaterra, e, Bobby Small, dos Estados Unidos, se veem cada vez mais cercados de atenção e especulação.

Em consequência dos acidentes e das sobrevivências miraculosas e, sobretudo, a mensagem de Pamela, suscitam o pastor Len. A partir de então ele começa a pregar que esses acidentes têm significados bíblicos, que podemos estar próximos do fim dos tempos, o apocalipse. E o mais aterrador é que talvez as crianças não sejam mais elas mesmas. Para além da eloquência evangélico-apocalíptica do pastor, outros religiosos e também teorias da conspiração ascendem para tentar explicar os acidentes e prever o que virá depois. Muito mais que sensacionalismo midiático, a situação assume um caráter mais sinistro e o mundo não será mais o mesmo.

É preciso reconhecer que Sarah Lotz concebeu uma trama com pretensões apocalípticas bastante interessante. Mas, seu maior êxito é na forma como ela construiu a narrativa. Diferentemente do que nos habituamos a ver, a construção de Os Três é curiosamente um livro dentro de um livro (tudo bem, isso não é tão inédito assim), adicionalmente, e ainda mais relevante, é a disposição formal do livro, dos capítulos. Não se trata simplesmente de uma narrativa em primeira pessoa, mas de trabalho jornalístico – escrito por Elspeth Martins, a jornalista - que se vale de entrevistas, depoimentos, gravações transcritas, conversas em chats e relatórios. Esses são os capítulos do livro e nisso reside um grande mérito de Sarah Lotz, ela sob tratar de um tema corrente – na literatura, claro -, de maneira inovadora.

Se por um lado essa narrativa com teor eminentemente jornalístico é uma das maiores vantagens do livro; por outro lado ela, por sua própria natureza jornalística, mantém o leitor mais ligado aos fatos que aos personagens.


Em seu conjunto, Os Três é um livro de ritmo intenso. O leitor é mantido sempre no escuro, o que nos é oferecido nos permite apenas especular. A fronteira entre as possibilidades reais e imaginárias é bastante tênue. A forma de contar a história fornece maior potência na geração do suspense. E, bem, o final não é o que se poderia chamar de esclarecedor. Durante todo o livro somos mantidos nas sombras, cheios de perguntas e dúvidas. O final, por sua vez, ao invés de elucidar a questão, oferece na verdade mais perguntas e deixa insolúvel, ou a solucionar o mistério dos três. Sarah Lotz deve a seus leitores respostas, portanto, uma continuação. Espero ver o trabalho de Elspeth Martins em novo volume. Leia e descubra Os Três. 


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Lançamento de Nosferatu (Joe Hill)

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A editora arqueiro vai lançar dia 8 de julho Nosferatu, de Joe Hill. Hill já tem publicado no Brasil três livros, os romances, A estrada da noite e o Pacto, e, o compilado de contos, Fantasmas do século XX. Além de ter uma tradição familiar no gênero horror – ele é filho de ninguém menos que Stephen King – Hill já ganhou dois Bram Stoker e, Nosferatu foi indicado para o prêmio ano passado. Confira a seguir capa e sinopse do livro.

“Um dos melhores autores de terror dos Estados Unidos.” – Time]

“Hill é tão habilidoso que, até o fim, não sabemos aonde a história irá nos levar. Sua narrativa é muito original e, para os fãs de terror com um tom irônico, um deleite incomparável.” – Kirkus Reviews 




Victoria McQueen tem um misterioso dom: por meio de uma ponte no bosque perto de sua casa, ela consegue chegar de bicicleta a qualquer lugar no mundo e encontrar coisas perdidas. Vic mantém segredo sobre essa sua estranha capacidade, pois sabe que ninguém acreditaria. Ela própria não entende muito bem. 
Charles Talent Manx também tem um dom especial. Seu Rolls-Royce lhe permite levar crianças para passear por vias ocultas que conduzem a um tenebroso parque de diversões: a Terra do Natal. A viagem pela autoestrada da perversa imaginação de Charlie transforma seus preciosos passageiros, deixando-os tão aterrorizantes quanto seu aparente benfeitor. 
E chega então o dia em que Vic sai atrás de encrenca... e acaba encontrando Charlie. 
Mas isso faz muito tempo e Vic, a única criança que já conseguiu escapar, agora é uma adulta que tenta desesperadamente esquecer o que passou. Porém, Charlie Manx só vai descansar quando tiver conseguido se vingar. E ele está atrás de algo muito especial para Vic. 
Perturbador, fascinante e repleto de reviravoltas carregadas de emoção, a obra-prima fantasmagórica e cruelmente brincalhona de Hill é uma viagem alucinante ao mundo do terror.


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Doze Anos de Escravidão (Solomon Northup)

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Autor: Solomon Northup
Nº de páginas: 280
Editora: Penguin-Companhia
Série/Saga: -
Nota: 4/5











“Enganam-se aqueles que dizem que o escravo ignorante e sem estudo não tem ideia da magnitude das injustiças a que é submetido. Enganam-se aqueles que imaginam que, ajoelhado, ele se põe de pé com as costas laceradas e sangrando, cultivando apenas o espírito de submissão e de perdão. Um dia pode vir 0 virá, se sua prece for ouvida -, um dia terrível de vingança, quando será a vez de o senhor gritar em vão por misericórdia.”
Há nas autobiografias e biografias – as de qualidade, é claro - uma característica que muito aprecio: a capacidade de transcendência. Trata-se daquelas histórias pessoais que conseguem ultrapassar a suas particularidades e contam ao leitor muito mais que o drama pessoal ali centralizado. Esse é um dos grandes méritos de Doze anos de escravidão, de Solomon Northup.

Solomon Northup nasceu livre. Negro residente de uma cidade do norte dos Estados Unidos, Solomon constituiu família, casou-se e teve três filhos. Em sua cidade destacou-se como cidadão respeitado, especialmente pela sua qualidade como violinista; ainda que tenha desenvolvido uma série de outras atividades.

Livre, alfabetizado, independente, Solomon não conhecia as mazelas as quais estavam destinados seus semelhantes. O que estava prestes a mudar. Quando certo dia o violinista é convidado por dois senhores a lhes acompanhar para que os auxilie no circo do qual são donos. Era um trabalho de remuneração considerável, o que levou Solomon a aceitar a empreitada. Seria o fim da sua ignorância sobre os desmandos da escravidão.

Após um curto período de viagem, quando depois de uma noite insone e cheia de dores, Solomon Northup acorda acorrentado. Estava então em uma casa de comercialização de escravos, em Washington, diante do capitólio. As tentativas de Solomon de requerer sua imediata liberdade, uma vez que havia nascido livre, lhe renderam uma repreenda dolorosa. Ficaria evidente que a partir de então ele não poderia reivindicar sua liberdade, o que colocaria sua vida em risco. E por 12 anos ele guardou esse segredo.

Assim, depois de algumas transações, Solomon Northup chega a Louisiana, as margens de Bayou Boeuf, seu nome agora é Platt. Diante de sua nova condição, Platt conheceria a perfídia da escravidão. Posse de uma série de senhores, ele poderia atestar as condições da escravidão sobre os diversos temperamentos dos senhores de escravo. Nesse ponto, ganha vulto a narrativa de Solomon Northup.

O mérito do trabalho de Northup é a capacidade de ao mesmo tempo em que conta sua própria história, ele consegue perfilar um retrato verídico da escravidão e da condição de escravo. Um aspecto a ser notado é que a trajetória de Solomon é inversa ao caminho comum da escravidão-liberdade, sua história segue o eixo liberdade-escravidão. E, talvez, por isso sua percepção seja tão pertinente. 

O quadro que Northup constrói passa pelo processo de venda, transação do escravo entre senhores, as condições de trabalho e de vivência do escravo à forma como estes estão subjulgados. Definitivamente, um retrato da escravidão. Isso é feito com grande provisão de detalhes, Solomon tem um olhar bastante acurado, tecendo uma sistemática da escravidão tal como ele pôde perceber.

Falando do livro é necessário fazer referência ao filme que brilhantemente complementa e rebusca a história de Solomon Northup. Um livro que merece ser lido, um filme que vale a pena ser assistido. Doze anos de escravidão é uma obra que merece destaque por aquilo que representa. 

"A influência do sistema iníquo necessariamente forja um espírito insensível e cruel, até mesmo no peito daqueles que, entre iguais, são vistos como humanos generosos."


terça-feira, 3 de junho de 2014

Leituras para 2014

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Fazer lista de leituras não é uma das práticas que mais aprecio. Ainda assim, elas tem a vantagem de dar alguma orientação – especialmente em casos nos quais a velocidade com que a lista de desejados cresce segue uma tendência quase geométrica.

Então, o intuito dessa lista é, antes de seguir um rigor cronológico, apresentar alguns livros que me chamaram a atenção e que tenho a intenção de ler até o fim do ano.

A morte dopai  (Karl Ove Knausgård)

A companhia das letras lançou esse livro ano passado e desde então várias críticas positivas tem sido escritas sobre o livro. Esse ano, foi lançado o segundo, Um outro amor, e a empolgação segue em alta. Curiosamente, o que mais me interessou nesse livro é o fato de que as pessoas não conseguirem explicar bem como foram tão atraídas pelo livro. Um mistério que pretendo descobrir.

O Inverno da nossadesesperança (Jonh Steinbeck)

Já li desse autor Ratos e Homens e Vinhas da Ira. Só posso dizer que ele é.... incrível. Dos melhores. O cara é tão bom que despertou meu interesse para todo um rol de autores americanos da primeira metade do século XX. Não vou me alongar sobre, mas leiam, me repito, é incrível.

Admirável mundonovo (Aldous Huxley)


Estou em débito com as distopias do século XX, e além de querer reler 1984, do Orwell, tenho que ler Admirável mundo novo. Parece ser um livro dos melhores, aliás, faz parte do trio de grandes distopias do século passado ao lado de Laranja Mecânica e 1984. 

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Essa lista poderia se estender. Mas por hora basta.  

domingo, 11 de maio de 2014

Na Mente, o Veneno (Andrea H. Japp)

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Autor: Andrea H. Japp
Nº de páginas: 272
Editora: Vertigo
Série/Saga: Diane Silver #1
Nota: 3,5/5










“O medo é uma reação animal, hormonal, poderosa, uma manifestação do instinto de sobrevivência.” p.9
Andrea H. Japp é uma autora francesa que está entre as rainhas francesas do crime. Em Na mente, o veneno Japp inaugura a série protagonizada pela profiler do FBI, Diane Silver.

Diane Silver é um profissional de renome internacional. Profiler de alto gabarito, sua fama profissional se equipara a suas referências pessoais. Ela é tida como uma pessoa extremamente difícil, geniosa, sistemática. Na verdade, Diane é uma mulher despedaçada, que busca pelas vias do trabalho esconder sua infeliz condição. Essa situação é fruto da perda da filha; sequestrda por sua serial killer e brutalmente assassinada. Depois disso, Diane Silver decidiu dedicar sua vida à tarefa de perseguir homens como os que feriram sua filha.

Recentemente, a profiler se vê às voltas com uma série de assassinatos de prostitutas. Mas dada a condição dessas mulheres a polícia não está tão preocupada, o que não esmorece a tentativa de Diane de traçar o perfil do assassino.

Enquanto isso, do outro da do atlântico, na França, uma série de ocorrências fatais chama a atenção do investigador Yves. Assassinatos violentos de jovens e motivações obscuras. O assunto acaba chegando ao conhecimento de Diana. Yves é certamente o único amigo de Diana; ele foi seu aluno nas técnicas de profiling.

Em meio a tudo isso, um assassino preciso ronda diferentes continentes e promove execuções agressivas. Nesse caso, se trata de um perfil realmente perturbador, de formulação difícil. Será papel de Diane Silver buscar identificar um perfil o mais exato possível para auxiliar a polícia na captura desses indivíduos.

Diane Silver é uma personagem problemática. Ferida pela morte da filha ela se tornou uma espécie de fera em constante estado de acuação pronta para desferir um ataque à primeira tentativa de aproximação. Seus posicionamentos são muitas vezes radicais, ela é uma mulher decidida, definitivamente, uma caçadora. E caça é um dos pontos altos do romance de Japp.
“Nós somos uma espécie bastante fabulosa, na qual alguns elementos estão corrompidos. Seriamente corrompidos. Nenhuma outra espécie possui elementos tão desequilibrados como a nossa. Nenhuma outra espécie possui elementos tão geniais, tão mágicos como a nossa.” p. 235
Japp construiu uma trama interessante. Ainda que o mistério necessitasse de maior “ocultação”, parece que nesse volume inaugural a atenção maior foi dada a problemática do desenvolvimento dos personagens, notadamente de Diane Silver. Apesar disso, o livro tem um ritmo acelerado, e sua leitura não é dificultada. Os diálogos são uma parte realmente interessante, e acabam por levantar questões polêmicas, como a punição adequada para criminosos em série.

Em resumo, Andrea H. Japp apresenta ao leitor uma história centrada em uma personagem problemática, que reserva momentos curiosos para o futuro.