myfreecopyright.com registered & protected

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Não Brinque com Fogo (John Verdon)

, , , , 0




Autor: John Verdon
Nº de páginas: 400
Editora: Arqueiro
Série/Saga: Dave Gurney 3
Nota: 4,5/5










“Não acorde o diabo”
Tenho que começar por dizer que John Verdon é um dos meus autores policiais preferido. Gosto do trabalho que o autor executou em Eu Sei o que você estápensando e Feche Bem os Olhos, ambos da série do detetive Dave Gurney. Não Brinque com fogo é a terceiro caso do detetive.

Dave Gurney é requisitado para ajudar uma velha amiga. Sua filha, Kim, está desenvolvendo um projeto sobre casos de assassinato não solucionados, intitulado os Os órfãos do assassinato. A tarefa de Gurney é assessorar a jovem com questões técnicas acerca de crimes e coisas afins. Importante também é o fato de que o trabalho foi selecionado para ser apresentado em um canal de televisão sensacionalista de sucesso.

Mas não é somente isso. Coisas estranhas têm acontecido na casa de Kim, ponto para o qual Gurney também foi direcionado. Objetos são trocados de lugar, facas desaparecem misteriosamente e depois ressurgem em locais improváveis. Ao que tudo indica as ocorrências são fruto de um relacionamento recém encerrado e um ex-namorado instável.

Gurney então decide ajudar Kim. Mas para tanto ele precisa se familiarizar com o caso. Trata-se dos assassinatos realizados pelo criminoso autodenominado Bom Pastor. O criminoso executou seis vítimas, que dirigiam Mercedes pretos em estradas isoladas e enviou um manifesto as autoridades declarando seus objetivos. Depois dos crimes, ocorridos há dez anos, o criminoso desapareceu sem deixar vestígios. Na época, foi construído um perfil psicológico do assassino unanimamente aceito. Contudo, após se familiar com os documentos sobre o Bom Pastor, o detetive começa a perceber inconstâncias no perfil traçado. E para provar sua tese terá de enfrentar a consagrada pelo próprio FBI. Além de tudo isso, os acontecimentos estranhos envolvendo Kim passam a fazer parte da vida de Gurney; até que seu celeiro é incendiado e ele sofre um acidente em um porão. E pode ser que o Bom Pastor resolva retornar.

Dave Gurney é o tipo que não consegue lidar com questões irresolutas. Mesmo após se aposentar, o detetive já se envolveu em dois casos – Melerry e Perry. Diante do Bom Pastor ele segue o mesmo ímpeto, e as obstruções só servem para fortalecê-lo. Porém, Gurney não é mais o mesmo. Os acontecimentos do caso Perry, e as seqüelas físicas ainda não totalmente curadas, lhe impuseram certos limites e evidenciaram sua vulnerabilidade. Com isso, vemos um Gurney mais impulsivo, amplamente mais raivoso e, de certo modo, depressivo. Ainda assim, o detetive não perde a fé em sua capacidade analítica.

E esse é um dos aspectos que mais gosto do trabalho de Verdon, o caráter eminentemente analítico. Os livros do autor, mesmo contemplado a ação e outros aspectos necessários, são constituídos de elementos de análise ressaltados. Dave é um detetive brilhante que trabalha com um raciocínio preciso. De modo que vemos casos serem delicadamente expostos até a solução inteligente. Além dessa característica, e também por ela, Gurvey é um dos detetives mais capazes que conheço. Sem falar que é um personagem de grande consistência. E falando em personagens, Dave será novamente assessorado pelo seu “parceiro”, o incontinente, Jack Hardwick, e pela sua inteligente esposa, Madeleine. Um novo personagem também surge, Kyle, o filho com quem o detetive tem uma relação difícil.

Está montada a estrutura. E como sempre John Verdon conduz seu trabalho com excelência. Um caso nebuloso, um detetive perspicaz, e, de grande importância, um criminoso de inteligência equivalente.

Um aspecto que acho importante ressaltar é que embora séries policiais possam ser lidas de forma “independente”, creio que a leitura da série Dave Gurney na seqüência é de elevada importância para que se apreenda toda a complexidade do detetive e se aprecie a qualidade do trabalho de Verdon. 



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Promoção Esconda-se

, 0




A primeira promoção de 2014 é do livro Esconda-se, de Lisa Gardner. Ùltimo lançamento da autora no Brasil, o livro traz uma trama permeada por suspense.  Participe da promoção em parceria com a Novo Conceito.

Confira a resenha do livro AQUI.



Disposições gerais:

1) Ser seguidor público do blog pelo Google Friend Connect.
2) Ser residente no Brasil.
3) Demais informações nos Termos e Condições do Formulário.



a Rafflecopter giveaway

Atualização

A vencedora da promoção foi a Adriana Oliveira. Obrigado a todos pela participação. 

Conforme disposição das regras a vencedora tem até dois dias para responder o e-mail enviando, caso contrário será realizado novo sorteio. 

Esconda-se (Lisa Gardner)

, , , , 0




Autor: Lisa Gardner
Nº de páginas: 400
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: D. D. Warren
Nota: 4/5










“Os corpos eram pequenos. Estavam nus. Eram femininos. Crianças, simples crianças, encolhidas dentro de sacos de lixo claros dos quais jamais escapariam.” p. 30
Lisa Gardner já mostrou sua competência na construção de intricadas tramas policiais. Isso foi demonstrado em Viva para contar e Sangue na neve. Em Esconda-se não foi diferente.

Annabelle Granger cresceu fugindo. Desde seus 7 anos de idade ela e seus país começaram uma inexplicável fuga de um fantasma que ela não conseguiu desvendar. Vivendo em diversas cidades sobre diferentes identidades. Durante esse tempo a jovem, e depois mulher, foi treinada para desconfiar de tudo e de todos, e treinada para reagir em situações de ataque. Annabelle se preparou a vida toda para enfrentar um medo obscuro. Agora, 25 anos depois de uma trajetória de fuga desesperada, com pai e mãe mortos, Annabelle Granger vê uma notícia no jornal. Ela está morta.

A Detetive D. D. Warren, Sargento do Departamento de Policia de Boston, se encontra em uma cena de crime aterradora. Num antigo sanatório desativado em uma câmara subterrânea foram encontrados 6 corpos de meninas. Todos submetidos à técnica de mumificação molhada, na qual os corpos se preservam em sacos plásticos nos seus próprios fluidos. Entre as vitimas, uma carrega um pingente, o nome inscrito é Annabelle Granger.

D. D. convoca um amigo, o agente Booby Dodge, da polícia estadual. Dodge esteve envolvido durante os anos 1980 com Umbrio, um assassino que tinha um modus operandi parecido com o caso recém descoberto pela polícia. Mas o caso não parece fácil. Perguntas sem resposta se avolumam. Qual a relação dos corpor recém descobertos com Umbrio? Como o nome de Annabelle Granger foi aparecer em um dos corpos? E, mais importante, qual a relação de Annabelle Granger com o caso?

A escassez de respostas leva a polícia a atirar para todos os lados. Investigação no estilo metralhadora. Annabelle é trazida para o caso. Os propósitos de fuga do seu pai começam a ser questionados. É preciso descobrir do que o pai de Annabelle fugiu durante todo esse tempo.

Esse é o cenário de Esconda-se. D. D. está implacável para solucionar o mistério. Está disposta a colocar em questão cada informação que tiver disponível. Um labirinto difícil de ser desvendado se colocado diante da sargento.

Existe a idéia de que romances policiais podem ser lançados de forma independente. Em alguns casos realmente não há um comprometimento muito grande. Mas no caso desse livro me incomodei um pouco com o retrocesso comportamental da D. D.. Na seqüência de lançamentos nacionais, o penúltimo livro lançado foi Sangue na Neve, o 4º da série.  Ali D. D. tinha evoluído há um estágio que notei retrocedido em Esconda-se, 2º livro da série. Nada que comprometa do mistério.

Em Esconda-se Lisa Gardner traz sua fórmula de personagens femininas fortes, a seu modo vulneráveis, e confrontadas por mistérios e perigos. Uma detetive competente, decidida, acompanhada de um elenco notável. Vale a pena conhecer esse e outros trabalhos da autora.





terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os Melhores Livros de 2013

0



Eis que 2014 chegou. É preciso então se debruçar sobre a inescapável – e igualmente difícil – tarefa de eleger as melhores leituras do ano. Recorrer ao clichê também faz parte do processo: cada ano, e cada vez mais, essa tarefa se torna mais trabalhosa. Uma série de fatores conspira para esse resultado. Mas é preciso escolher os mais marcantes.  Todavia, apesar de toda a dificuldade que envolve o exercício, tenho que fazer uma ressalva: escolher os melhores foi complicado, mas nunca foi tão fácil eleger O melhor.

O título de primeiro lugar vai para as Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Esse livro foi uma surpresa. É possível encontrar na prosa de Swift uma leveza que traz consigo uma hostilidade perturbadora. O autor é a voz satírica mais competente, radical e elevada que já tive o prazer de conhecer. Duvido que haja páreo.  Com isso, e tendo em vista a perspectiva nada convencional do autor acerca da decadência humana – acima de tudo a contestação inabalável da racionalidade humana -, e  os outros elementos que congrega, As Viagens de Gulliver leva o prêmio.

Apesar do destaque do primeiro colocado, ele vem acompanhado de outros exemplares de peso – e a partir deste ponto abandono a elencação de posicionamentos. Dos livros que compareceram na lista dos melhores do primeiro semestre (aqui), Kafka manteve sua posição. Essencial Franz Kafka (A Metamorfose e contos) não poderia faltar a essa lista. A prosa labiríntica do autor e suas implicações lhe garantem o posicionamento. Outro que se faz presente é Capitães da Areia. Jorge Amado foi uma agradável experiência e o livro foi importante em reacender meu interesse pelos clássicos nacionais.

Junta-se a lista O Mundo se despedaça, de Chinua Achebe. Achebe é um dos contadores de história mais competentes que já tive contato. A forma como ele constrói e conduz sua história tornam sua obra imperdível. Também digno de nota é A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera. Neste caso, o destaque é para os personagens e para o tom filosófico da obra - isso sem ser pedante. De modo que Kundera reúne em seu livro personagens que conquistam a atenção do leitor e levanta questionamentos curiosos. Numa linhagem não muito diferente, se apresenta Minha Querida Sputnik. É possível notar uma veia um tanto filosófica, com personagens de qualidade, mas o destaque é para o lirismo contido na prosa de Haruki Mukarami. 

Feche Bem os olhos se junta a Não Brinque com fogo, ambos da série do Dave Gurney, de John Verdon. Verdon é um autor policial pelo qual eu tenho grande respeito. A construção do detetive Gurney é uma das mais consistentes que conheço. E, de fato, gosto do traço eminentemente analítico presente nas obras do autor.

Não poderia deixar de destacar O Festim dos Corvos, de G.R.R. Martin. O 4º volume das Crônicas de Gelo e Fogo consegue trazer os mesmos elementos que consagraram a série em outros volumes – personagens complexos, uma trama imprevisível e um cenário fascinante.

Quanto aos representantes da não ficção primeiramente tenho de citar Lincoln, de Doris Goodwin. A autora consegue unir detalhamento biográfico com noção espacial, em conformidade com uma narrativa muito atraente. Outro exemplar notável é A Imaginação Econômica, de Sylvia Nasar. Textos econômicos geralmente não são leituras fáceis e agradáveis. Mas Nasar consegue conceber uma narrativa cronológica, fácil de compreender, de leitura agradável e com uma união de referências literárias com contextos históricos pertinente.

Finalmente, gostaria de colocar Festa no Covil e Se vivêssemos em um lugar normal, ambos de Juan Pablo Villalobos. Componentes da trilogia mexicana, os exemplares de Villalobos reúnem um tom tragicômico, que desvela uma realidade latino americana de maneira interessante e divertida. De modo que questões sérias são colocadas sem que se perca o bom humor – sendo este um elemento estratégico.

O ano foi bastante produtivo, 73 livros lidos. E foram leituras diversas, e de certo modo, essa lista reflete isso. Para 2014 espero que a tendência à diversidade literária continue – e se intensifique. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Nascente Vol. I e II (Ayn Rand)

, , , 0





Autor: Ayn Rand
Nº de páginas: Vol.1 - 432 e vol.2 - 360
Editora: Arqueiro
Série/Saga: A Nascente - Vol. 1 e 2
Nota: 5/5










“Em nome de que direito concebível alguém pode exigir que um ser humano exista para qualquer coisa que não seja a sua própria alegria?” p. 189 vol.2 
Entre os diversos tipos de romance existentes a díade personagem-cenário pode assumir, genericamente, dois formatos: o primeiro diz respeito às situações em que o personagem é um meio para se apresentar um cenário maior; o segundo caso é aquele em que o cenário é meramente uma forma de ressaltar o personagem. (Claro, deve existir uma terceira via, a do equilíbrio). Em se tratando de A Nascente o cenário é apenas uma forma para se apresentar o modelo de “homem ideal”. Corporificado em Howard Roark.

Howard Roark é um desajustado. Expulso da faculdade de arquitetura, deslocado socialmente, solitário e individualista. Um homem determinado a negar os padrões de uma sociedade com a qual não se identifica. Esse é o herói de Ayn Rand, A Nascente é um romance que cria as condições para que tal figura possa emergir. Desde a juventude Roark se recusou a assumir normas sociais. Após abandonar a faculdade de arquitetura, decidiu seguir seus próprios padrões arquitetônicos. Se recusando a aceitar o estilo histórico, e trabalhando tão-somente no estilo modernista, o qual ele acredita e respeita seus padrões racionais. Mas a integridade e os preceitos de Roark são colocados em cheque. A sociedade está demasiadamente calcada em tradicionalismo, conservadorismo e parasitismo para adotar seu modelo arquitetônico, ou assumir uma postura criativa. Apesar disso, mesmo diante da possibilidade do desemprego, Roark é inexorável em seu posicionamento. Se predispondo a realizar trabalhos manuais a ter de ceder sua posição. Assim um cenário de dificuldade e desafios se põe no caminho de Howard Roark.

Entretanto, Roark não domina toda a cena. Apesar de sua centralidade uma alegoria de outros personagens se faz presente. Especialmente, os elementos que terão de por a prova a tenacidade do herói e os representantes ilustres da “feiúra do mundo”. Uma jovem mulher que se recusa a ter qualquer relacionamento profundo; um magnata poderoso que é uma incógnita; um jornalista ambicioso, e um arquiteto que representa a debilidade humana. Desse elenco vale a pena ressaltar a figura de Peter Keating. Keating é o inverso de Roark. Um jovem arquiteto com uma carreira aparentemente promissora. Mas um homem que vive em condições de subordinação; sequioso de agradar os outros, vivendo pela aprovação alheia, e um profissional que não sabe o que é amar o seu ofício. Um exemplar de parasitismo humano. 

O papel coadjuvante do enredo não diminui sua relevância. O quadro criado por Ayn é capaz de comportar as condições para seu “homem modelo”. A arquitetura é a expressão de arte adotada. E é sobre os seus fundamentos que será travada a batalha acerca da verdadeira capacidade humana.

É importante notar, apesar de ficcional A Nascente é um romance filosófico que coaduna parte importante do pensamento de Ayn Rand. Sua perspectiva acerca do homem assume aqui status de grandeza. Ela traz a tona uma idéia antiga: a busca egoística do interesse individual tende a promover o interesse comum. A individualidade, a racionalidade, a autodeterminação, e o egoísmo - sem quaisquer constrangimentos -, são elementos fundamentais na obra da autora. Rand se levanta contra toda e qualquer forma de coletivismo. Entende a organização coletiva como a forma de promoção de pessoas individualmente incapazes – também personalizados no romance. E é com base nesses fundamentos que é erigida A Nascente. Assim, não é por acaso que a autora causou e causa polêmica.
 “- É interessante especular sobre as razões que tornam os homens tão ansiosos para se rebaixarem a si mesmos. Como naquela idéia de se sentir pequeno diante da natureza. Não é só uma idéia popular, é praticamente uma instituição. Você já notou como um homem se sente virtuoso quando fala sobre isso? Ele parece dizer: ‘Olhe eu estou tão satisfeito por ser um pigmeu, veja como sou virtuoso.’” [...]” p. 70 vol.2
É possível notar elementos louváveis na obra de Rand. A crença inabalável dada construção de um modelo humano de integridade irremovível, e mesmo, a veneração que a autora tem pelo Homem. Para ela, o Homem é o único fim em si mesmo. E talvez seja esse o ponto mais essencial de sua produção: a exaltação do gênero Humano. Em relação aos demais elementos, creio que a autora assumiu uma inocência notável – pra não dizer uma disposição idealista e utópica. Não creio que seja concebível seu liberalismo radical, ainda que a liberdade seja fundamental. O destaque na busca do interesse egoístico é outro aspecto a ser questionado. O modelo heróico erigido não parece ser de todo possível.

Além dos elementos filosóficos presentes na obra, há que se destacar a qualidade romanesca do trabalho de Rand. Os personagens construídos pela autora são, em essência, complexos. Temos figuras com objetivos claros, mas existem também os indivíduos dúbios, com interesses questionáveis, romance e, acima de tudo, a necessidade de satisfazer alguns questionamentos: Será que Howard Roak irá perseverar até o fim? E caso consiga, qual será o seu futuro?

Um dos maiores méritos de Ayn Rand é abordar um assunto extremamente delicado de forma ficcionalizada mantendo a coerência do romance – com personagens interessantes, um enredo digno e uma narrativa atraente - em consonância com a integridade ideológica. Independentemente do alinhamento ideológico, A Nascente é um livro que se faz necessário. Uma obra brilhante.