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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Novidade - O Inocente, do Harlan Coben

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A editora Arqueiro vai lançar O Inocente, do Harlan Coben. A previsão de lançamento é dia 5 de novembro. O livro já havia sido lançado no Brasil pela editora Arx, que publicou o livro em 2006.

“Harlan Coben faz em seus livros o que Alfred Hitchcock fazia em seus filmes.” - South Florida Sun-Sentinel 



Aos 20 anos, Matt Hunter vive uma noite de horror que ficará para sempre gravada em sua memória. Durante uma festa, ao tentar apartar uma briga, ele mata uma pessoa acidentalmente e é considerado culpado pelo júri. Agora, nove anos depois de ser libertado da prisão, tudo parece ter entrado nos eixos: Olivia, sua esposa, está grávida e os dois estão prestes a comprar uma casa na cidade natal dele. Mas a ilusão acaba quando Matt recebe um vídeo chocante e inexplicável que começa a despedaçar sua vida pela segunda vez. Para piorar, ele começa a ser seguido por um homem misterioso. Em pouco tempo, o perseguidor é encontrado morto e uma freira querida por todos também é assassinada. Quando as pistas apontam para Matt, ele e Olivia são forçados a desafiar a lei em uma tentativa desesperada de salvar seu futuro juntos. O inocente é um thriller vertiginoso, carregado de emoções. Além disso, é um relato contundente sobre as escolhas que às vezes somos obrigados a fazer e as dramáticas repercussões que teimam em não nos abandonar. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Mundo se Despedaça (Chinua Achebe)

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Autor: Chinua Achebe
Nº de páginas: 240
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: Trilogia Africana
Nota: 5/5

“Demonstrar afeição era sinal de fraqueza; a única coisa que valia a pena mostrar era a força.” P. 48
Chinua Achebe é um dos autores africanos mais importantes da contemporaneidade. É certamente o autor nigeriano de maior destaque. O mundo se despedaça (1958) é o primeiro livro do autor, e inaugura a Trilogia Africana, seguida por A flecha de deus (vencedor do Man Brooker Prize) e A paz dura pouco, ambos publicados pela Companhia das Letras. 

O que faz Achebe é contar a história do colonizado; como a chegada do homem branco impacta a sociedade já existente com seus costumes, leis e regras. Para tanto, o leitor é levado a Umuófia, terra do guerreiro Okonkwo.

Em Umuófia um homem se faz grande pelo que herda de seu pai, ou com o que constrói com seu próprio trabalho. Para Okonkwo tudo que ele alcançou foi fruto de seu esforço - não havia o que herdar da figura prostrada do pai. Assim, a  trajetória de Okonkuo é dura, ele partiu de um ponto baixo, mas com sede de galgar posições em seu clã ele fez tudo que estava a seu alcance. E logrou sucesso.

Ainda muito jovem ele se destaca como grande lutador, seguidamente constitui uma grande família, três mulheres, muitos filhos, e um compound (conjunto habitacional) grande, bem como uma produtiva plantação de inhame – significado de status em seu clã.

Dessa forma, Okonkuo torna-se grande entre os seus. Mas seu temperamento tempestuoso, a ira incontrolável, lhe acarreta problemas. Em Umuófia não importa o título, estão todos sujeitos as normas da tradição. E quando depois de um acesso de fúria Okonkuo desrespeita uma regra, começam seus problemas. Para agravar terminantemente sua situação, um acidente em que ele se envolve acaba por levá-lo ao exílio. Obrigando o jovem guerreiro há passar sete anos na aldeia de sua mãe.

O exílio de Okonkuo coincide com a chegada de um corpo estranho a sua sociedade, o homem branco. E quando finalmente retorna a sua terra, Umuófia já não é mais a mesma. O homem brando já colocara em exercício sua máquina de dominação, o mundo de Okonkuo se despedaça.

Esse é o panorama da obra de Achebe. O clímax ocorre quando da chega do homem brando, contudo, antes, é preciso conhecer a sociedade em que se assenta Okonkuo, para só então entender as rupturas que nela se processarão.

Umuófia, especialmente, e as demais aldeias vizinhas, seguem uma tradição antiguíssima. Ali parece que as coisas sempre foram como são, e assim devem continuar sendo. O apego à tradição, o politeísmo, a sociedade rigidamente patriarcal, oligarca, e, mesmo, estratificada. Na qual, a ascensão de um homem está intimamente ligada a sua capacidade de adquirir títulos, por meio de suas posses, e, por extensão, de seu trabalho. A competitividade é algo inerente.

Soma-se ao trabalho de resgate tradicional de Achebe, a inegável qualidade de sua prosa. Em que ele transfere os maneirismos dos discursos dos homens de Umuófia, expresso pelo apego a eloquência, aos discursos acalorados, a utilização dos provérbios. E como em toda boa história, é preciso um bom “herói”, e Okonkuo é a escolha do autor.

Okonkuo não é um homem mal, tampouco bom. Cresceu em meio a uma sociedade extremamente competitiva, que exalta demonstrações de virilidade, e, sobre a sombra de um pai que lhe envergonha. O medo do fracasso, de parecer com o pai, é um constante em sua vida. Assim, Okonkuo faz do medo a sua força. E torna-se também refém dela.

É sobre a visão deste homem, em grande parte, que vemos a desintegração da sociedade “primitiva”. A chegada do homem branco, com instituições, religiões e regras estranhas ao hospedeiro, está no cerne da desconstrução corrente. Executa-se um choque cultural.

O encontro entre colonizado e colonizador encerra o volume, e neste título inaugural Achebe mostra porque é tido em alto conceito entre os autores africanos. Seu trabalho é de excelência.

“Okonkwo governava sua família com mão pesada. Suas esposas, principalmente as mais jovens, temiam constantemente seu temperamento violento, assim como os filhos menores. Talvez, no fundo do coração, Okonkwo não fosse um homem cruel. Mas toda a sua vida era dominada pelo medo, o medo do fracasso e da fraqueza. Era um medo mais profundo e mais íntimo do que o medo do mal, dos deuses caprichosos ou da magia, do que o medo da floresta e das forças malignas da natureza, de garras e dentes vermelhos. O medo de Okonkwo era maior que todos esses medos. Não se manifestava externamente; jazia no centro de seu ser. Era o medo de si próprio, de que afinal descobrissem que ele se parecia com o pai.” p. 33

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Novidade sobre novo livro de Joe Hill

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A editora Arqueiro anunciou ontem em sua conta do facebook que lançará o livro NOS4A2, último lançamento do Joe Hill – filho do Stephen King. A previsão é que o livro seja lançado por aqui ano que vem, ainda sem data definida. A Arqueiro já tem publicado do autor: A Estrada da Noite, Fantasmas do Século XX e O Pacto.

"Simplesmente o melhor escritor de horror de nossa geração [...]” - Michael Koryta 
"NOS4A2 é uma obra-prima do horror." – Levi Grossman, A revista Time 
"Fascinante e totalmente envolvente, este romance é a certeza de deixar os leitores querendo mais. Uma coisa é certa, porém. Depois de ler este livro, os leitores nunca vão ouvir canções de natal exatamente da mesma maneira." – Library Journal (Starred Review) em NOS4A2





quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Festa no Covil (Juan Pablo Villalobos)

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Autor: Juan Pablo Villalobos 
Nº de páginas: 96
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: -
Nota: 4/5










“A vantagem da beira da extinção é que ainda não é extinção.”

Quando comecei a ler Festa no covil achei que se tratava de narcoliteratura; um gênero pulp que tem ganhado cada vez mais espaço, especialmente entre os latino-americanos. Mas, ao fim, não é bem sobre isso que o livro trata, é preciso antes se debruçar sobre a figura de Tochtli.

Tochtli é uma criança, que não sabemos exatamente a idade, que vive em um palácio em algum recôndito mexicano. Seu pai é um chefão do narcotráfico. E assim, somos embalados durante a leitura pela perspectiva infantil desse panorama nefasto.

Sórdido, nefasto, pulcro, patético e fulminante. Essas são palavras centrais para Tochtli, ele as descobriu e usa em diferentes contextos. Assim, a figura infantil começa a nos descrever sua vida. Para começar, algumas pessoas o consideram um menino precoce, se bem que essa é a opinião de apenas uma parcela de todas as pessoas que ele conhece. São somente 15 pessoas. O mundo de Tochtli se resume a isso, 15 pessoas, e nenhuma delas é uma criança ou mesmo sua mãe, são somente adultos.

Nesse quadro, Tochtli acaba desenvolvendo uma forma particular para seu pequeno mundo. Para tanto, ele pode contar com a ajuda de seu tutor Mazatzin; um escritor fracassado. Ele tem gostos peculiares como uma coleção de leões, onças, pássaros exóticos e outros animais. Aliás, para que gatos, cachorros entre outros animais domésticos quando se pode ter feras. Simples assim.

Em meio a tudo isso o garoto nutre uma afeição especial pelos franceses. Afinal, os franceses inventaram a guilhotina, que é uma forma muito cômoda, na verdade, delicada de matar. Porque no México as cabeças são cortadas com facões, e é preciso um esforço considerável, cerca de quatro golpes, para separar a cabeça do corpo, nos confidencia o garoto. Ele tem também uma suntuosa coleção de chapéus, de diferentes lugares do mundo. Mas sua mais recente fixação é adquirir um hipopótamo anão da Libéria.

Apesar de tudo, ser uma criança em um mundo de adultos, um mundo sórdido, o pequeno se permite sonhar. Nesse cenário fechado, em que tudo parece girar em torno de seus desejos infantis, Tochtli tenta amenizar sua solidão.
“O cabelo é que nem um cadáver que você carrega na cabeça quando está vivo. Além do mais é um cadáver fulminante, que cresce sem parar, o que é muito sórdido. Vai ver que quando você vira cadáver o cabelo deixa de ser sórdido, mas antes ele é, sim”
Quanto ao elemento sórdido do seu mundo, o narcotráfico, Tochtli é um descritor frio, ele conta como corpos são lançados aos tigres, ou mesmo, como pessoas morrem, com alguma riqueza de detalhes, de forma simples, inocente. Mesmo assim ao leitor não é possível entrever do narcotráfico nada além da capacidade de captação de uma criança sobre um assunto tão sórdido.

Com isso, o livro deixa de ser narcoliteratura, para ser algo diferente, com contornos próprios, puro experimentalismo literário. Em que o foco não é necessariamente o mundo do crime, mas algo mais. A forma como uma criança se encaixa e se desenvolve nesse contexto. Tochtli, em toda sua predisposição para ser macho, como o pai lhe ensinou, é acima de tudo uma criança isolada, privada de infância, que vive em um mundo solitário.

Villalobos consegue em menos de 100 páginas tratar de coisas importantes, em um o livro que esconde mais que revela. Aliado a isso reside uma história que é deliciosamente divertida. 
“Antes de dormir procurei no dicionário a palavra prestígio. Entendi que o prestigio se trata das pessoas terem uma ideia boa de você, de acharem que você é o máximo. Nesse caso você tem um prestígio. Patético.”

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O menino da mala (Agnete Friis & Lene Kaaberbol)

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Autor: Agnete Friis & Lene Kaaberbol
Nº de páginas: 256
Editora: Arqueiro
Série/Saga: Nina Borg #1
Nota: 3,5/5











A produção policial nórdica (ou escandinava) traz consigo um elemento que considero muito interessante. Uma espécie de valor social. São livros provenientes de países em que as taxas de criminalidade e violência são muito reduzidas – supondo um “modelo” de sociedade -, e daí os romances policiais cumprem a tarefa de colocar em questão os dados. Mostrando que apesar dos “bons números” subjaz nessa sociedade um mundo obscuro.

Em O menino da mala somos apresentados à enfermeira da Cruz Vermelha, Nina Borg. Nina é uma mulher que se entrega de corpo e alma a profissão que escolheu exercer. E para tanto, ela não mede esforços para salvar vidas, mesmo que com isso coloque em risco a sua própria vida. É está mulher que diante do pedido de uma amiga vai ao metrô buscar uma mala misteriosa. Encontrando dentro dessa mala um menino, nu e drogado.

A descoberta do “menino da mala” automaticamente ativa o sensor de proteção de Nina, e quando ela percebe que existe outra pessoa, um gigante permeado de ódio, atrás do menino ela não hesita em fugir e buscar, ela mesma, cuidar da situação.

Mas as coisas vão ficando cada vez mais delicadas. E sua amiga, que havia lhe pedido para buscar a mala, é brutalmente assassinada. Para deixar as coisas mais interessantes, o menino, que parece ter cerca de três anos, não fala o mesmo idioma da enfermeira. Segue-se uma fuga desesperada para salvar o garoto.

Apesar da centralidade do papel da Nina Borg, a trama não se resume a ela. Conhecemos desde o início uma mãe solitária que vive somente para seu filho, um empresário que passa por dificuldades para realizar um “negócio” e um brutamonte tão cruel quanto inocente. Essa mãe que passará da solidão para a desolação tem espaço especial no livro.

Nina Borg a princípio me pareceu um tanto quando descompensada. Ela age simplesmente por impulso. Instinto é o que a move. Dado esse comportamento, em certos momentos errante, ela se mostra uma personagem complicada. Mas apesar de suas ações impensadas é possível perceber que sua propensão imparável para o perigo e pela tentativa de salvar vidas reside em um aspecto bastante particular de sua história.

Como indicado no começo, os romances provenientes desses países tendem a evidenciar maculas sociais. E neste aspecto, O menino na mala é feliz. Aqui vemos desvelada a problemática do tráfico de crianças, dos complexos problemas com a imigração - questão que parece ainda insolúvel nessa parte do mundo. Satisfeita essa característica, está ausente nesse livro uma especificidade quase dominante na produção nórdica, o inverno rigoroso. Inversamente, a história se passa em pleno o verão. Não que isso constitua ponto negativo, apenas diferente.

Quanto a capa é necessário dizer que é um dos projetos gráficos mais legais da editora. E consegue ser ainda mais agradável pessoalmente. Uma bela capa. 

Ao fim, me parece que O menino na mala, embora não traga a “primeira linha” do romance policial nórdico - é bom se manter longe de comparações com Stieg Larsson - cumpre seu papel de forma exitosa. É um bom livro.  


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Novidades - Esconda-se (Lisa Gardner)

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A Novo Conceito lança em outubro o livro Esconda-se, da Lisa Gardner. Este livro é o segundo da série protagonizada pela detetive D. D. Warren, que também da nome a série. A editora tem lançado no Brasil dois livros da autora Viva para contar e Sangue na neve, que são os volumes 4 e 5, respectivamente.




Em 2011 o livro foi adaptado pela TNT, que teve Carla Gugino interpretando a detetive D. D. Warren. Confira a seguir o trailer da adaptação: 

                         


Lisa Gardner é uma das representantes mais capazes do romance policial, sua tramas são bem encadeadas, detentoras de um planejamento cuidadoso e desafiam o leitor mais experiente. Uma autora que precisa ser conhecida, definitivamente.


"De primeira linha .... Um passeio de roer as unhas até o clímax emocionante ". Publishers Weekly
"Uma intensa história de suspense ..." Chicago Tribune 


Uma mulher que foi obrigada a fugir — desde criança— de uma possível ameaça. Uma ameaça que seu pai via em todo lugar, mas que a polícia nunca considerou. Um antigo e desativado sanatório para doentes mentais que pode ter muito mais a esconder entre suas paredes do que homens e mulheres entorpecidos por remédios. Uma história de rancor entre membros de uma mesma família que nunca conseguiram superar os episódios de violência doméstica que presenciaram. Um pingente que foi parar em mãos erradas — e a cena de um crime brutal: seis meninas mortas e mumificadas há mais de trinta anos. Agora, cabe à famosa detetive D.D. Warren descobrir quem foi o serial killer que cometeu esta atrocidade e que motivação infame deformou sua mente. Acompanhe D.D. Warren na solução de mais este complexo caso e encontre o inimaginável que está por trás de pessoas aparentemente comuns!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Promoção Sangue na Neve

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Em Sangue na Neve, da Lisa Gardner, o leitor é levado por uma história cheia de suspense com um desenrolar que se torna mais complexo a cada página. Participe da promoção em parceria com a Novo Conceito.

Confira a resenha do livro AQUI.



Disposições gerais:

1) Ser seguidor público do blog pelo Google Friend Connect.
2) Ser residente no Brasil.
3) Demais informações nos Termos e Condições do Formulário.


a Rafflecopter giveaway

Atualização
Enfim foi finalizada a promoção. Gostaria de agradecer aos participantes. O vencedor foi o Joshua Guimarães.

O sorteado cumpriu todas as regras, e tem 2 dias para responder o e-mail enviado, caso contrário será realizado um novo sorteio. 

Promoção Kit Bruxos e Bruxas

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Confiram a seguir a promoção de Bruxos e Bruxas, do James Patterson, em parceria com a Novo Conceito.

Confira a resenha do livro AQUI.



Disposições gerais:

1) Ser seguidor público do blog pelo Google Friend Connect.
2) Ser residente no Brasil.
3) Demais informações nos Termos e Condições do Formulário.


a Rafflecopter giveaway

Atualização
Encerrada esta promoção, gostaria de agradecer aos participantes e anunciar o vencedor, que foi o Douglas Fernandes.

O sorteado cumpriu todas as regras, e tem 2 dias para responder o e-mail enviado, caso contrário será realizado um novo sorteio. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sangue na Neve (Lisa Gardner)

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Livro: Sangue na Neve
Autor: Lisa Gardner
Nº de páginas: 416
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: D. D. Warren #5
Nota: 4/5









Várias características são relevantes para que um livro se constitua em um bom romance policial. Mas as camadas são essenciais. É supérfluo dizer, mas romances policiais envolvem mistérios, e, portanto, a forma como isso é trabalhado pelo autor se torna questão elementar. Nesse contexto, reside o papel superlativo das camadas. Elas geralmente são representadas de duas formas, ou o autor preserva o derradeiro suspense apenas para os instantes finais, ou com o decorrer da história ele vai liberando informações em “conta-gotas” permitindo ao leitor construir sua própria solução para o mistério. Enfim, camadas são importantes. Toda essa história sobre camadas se faz necessária, pois em Sangue na Neve temos muitas camadas, e até que a última seja finalmente revelada, muitas suposições podem ser conjecturadas.  Vamos ao livro.

A policial estadual Tessa Leoni assassinou o marido, Brian Darby, com três tiros no peito. Mas, ao que tudo indica, a policial agiu em legítima defesa. E para dar suporte a essa suposição o rosto desfigurado parece ser uma boa evidência do que ocorreu. Até esse ponto, o caso parece ser apenas mais uma ocorrência de violência doméstica que termina de forma trágica.

O que ocorre, contudo, é que Sophie Leoni, a filha da policial, está desaparecida, não há qualquer indício da menina de 6 anos, e a mãe não tem condições de prestar informações úteis sobre o paradeiro da filha.

D.D. Warren, a detetive responsável pelo caso, logo entreve um cenário muito mais complexo que o suposto assassinato do marido pela esposa agredida. Definitivamente, existe algo mais por trás dessa história. E o desaparecimento de Sophie é condição suficiente para despertar o alarme de D. D. Ela está disposta a descobrir o que exatamente ocorreu, e acima de tudo encontrar Sophie, viva ou morta.

As investigações levam a caminhos cada vez mais tortuosos, a ideia de que Brian seja um agressor é descartada por todas as pessoas que são próximas a ele, e a condição da Tessa, bem como a impressão de que ela esconde mais do que revela deixam D. D. cada vez mais intrigada.

Está formado o corpo do suspense, resta a Gardner desenvolvê-lo. E acredite, ela sabe como fazer isso. Tece suas camadas com cuidado.

Logo que iniciamos o livro, Gardner trabalha intensamente em seu suspense. Os personagens estão lá, são importantes, mas o suspense ganha contornos cada vez mais intensos. Assim, a cada rodada Gardner desvela uma camada, e é possível entrever um pouco mais do que está ocorrendo, e em seguida novamente outra camada é revelada, e ai caminhos mais obscuros vão se colocando. E isso ocorre de forma natural, à autora não força, ela tem uma capacidade melindrosa de trabalhar com os mistérios, é preciso ter paciência, cuidado, e, acima de tudo, atenção.

Apesar da centralidade do suspense, os personagens não são negligenciados. D. D. é determinada, seu perfil agressivo e direto chega a impressionar. E mesmo com toda essa força, ela é uma mulher frágil, tem seus medos, sabe que apesar de tudo a vida é um mistério que ela não conseguiu desvendar, e talvez nunca consiga. Nesse aspecto, ela é também uma vítima. Já Tessa Leoni é brilhante, é uma mulher que fez a si mesma, vive acima de tudo pela filha, tornou-se mais forte por ela. E está acima de tudo disposta a chegar às últimas consequências por Sophie. É inacreditável o que uma mãe é capaz de realizar.

Assim, o circo está montado: um mistério em várias camadas, personagens bem construídos e uma narrativa atraente – que alterna entre primeira e terceira pessoa. Lisa Gardner mostrou-se muito competente em Viva para contar – seu primeiro livro lançado no Brasil – e em Sangue na neve ela simplesmente cristalizou sua inegável capacidade de arquitetar bons romances policiais.