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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Festa no Covil (Juan Pablo Villalobos)

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Autor: Juan Pablo Villalobos 
Nº de páginas: 96
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: -
Nota: 4/5










“A vantagem da beira da extinção é que ainda não é extinção.”

Quando comecei a ler Festa no covil achei que se tratava de narcoliteratura; um gênero pulp que tem ganhado cada vez mais espaço, especialmente entre os latino-americanos. Mas, ao fim, não é bem sobre isso que o livro trata, é preciso antes se debruçar sobre a figura de Tochtli.

Tochtli é uma criança, que não sabemos exatamente a idade, que vive em um palácio em algum recôndito mexicano. Seu pai é um chefão do narcotráfico. E assim, somos embalados durante a leitura pela perspectiva infantil desse panorama nefasto.

Sórdido, nefasto, pulcro, patético e fulminante. Essas são palavras centrais para Tochtli, ele as descobriu e usa em diferentes contextos. Assim, a figura infantil começa a nos descrever sua vida. Para começar, algumas pessoas o consideram um menino precoce, se bem que essa é a opinião de apenas uma parcela de todas as pessoas que ele conhece. São somente 15 pessoas. O mundo de Tochtli se resume a isso, 15 pessoas, e nenhuma delas é uma criança ou mesmo sua mãe, são somente adultos.

Nesse quadro, Tochtli acaba desenvolvendo uma forma particular para seu pequeno mundo. Para tanto, ele pode contar com a ajuda de seu tutor Mazatzin; um escritor fracassado. Ele tem gostos peculiares como uma coleção de leões, onças, pássaros exóticos e outros animais. Aliás, para que gatos, cachorros entre outros animais domésticos quando se pode ter feras. Simples assim.

Em meio a tudo isso o garoto nutre uma afeição especial pelos franceses. Afinal, os franceses inventaram a guilhotina, que é uma forma muito cômoda, na verdade, delicada de matar. Porque no México as cabeças são cortadas com facões, e é preciso um esforço considerável, cerca de quatro golpes, para separar a cabeça do corpo, nos confidencia o garoto. Ele tem também uma suntuosa coleção de chapéus, de diferentes lugares do mundo. Mas sua mais recente fixação é adquirir um hipopótamo anão da Libéria.

Apesar de tudo, ser uma criança em um mundo de adultos, um mundo sórdido, o pequeno se permite sonhar. Nesse cenário fechado, em que tudo parece girar em torno de seus desejos infantis, Tochtli tenta amenizar sua solidão.
“O cabelo é que nem um cadáver que você carrega na cabeça quando está vivo. Além do mais é um cadáver fulminante, que cresce sem parar, o que é muito sórdido. Vai ver que quando você vira cadáver o cabelo deixa de ser sórdido, mas antes ele é, sim”
Quanto ao elemento sórdido do seu mundo, o narcotráfico, Tochtli é um descritor frio, ele conta como corpos são lançados aos tigres, ou mesmo, como pessoas morrem, com alguma riqueza de detalhes, de forma simples, inocente. Mesmo assim ao leitor não é possível entrever do narcotráfico nada além da capacidade de captação de uma criança sobre um assunto tão sórdido.

Com isso, o livro deixa de ser narcoliteratura, para ser algo diferente, com contornos próprios, puro experimentalismo literário. Em que o foco não é necessariamente o mundo do crime, mas algo mais. A forma como uma criança se encaixa e se desenvolve nesse contexto. Tochtli, em toda sua predisposição para ser macho, como o pai lhe ensinou, é acima de tudo uma criança isolada, privada de infância, que vive em um mundo solitário.

Villalobos consegue em menos de 100 páginas tratar de coisas importantes, em um o livro que esconde mais que revela. Aliado a isso reside uma história que é deliciosamente divertida. 
“Antes de dormir procurei no dicionário a palavra prestígio. Entendi que o prestigio se trata das pessoas terem uma ideia boa de você, de acharem que você é o máximo. Nesse caso você tem um prestígio. Patético.”
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