Livro: Em busca de um final feliz
Autor: Katherine Boo
Nº de páginas: 288
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: -
Nota: 4/5
As histórias de ficção muitas vezes apresentam elementos da
realidade, agregam em seu íntimo personagens, lugares e situações
parafraseados. E, por mais verossímeis que sejam seus personagens, suas
realizações e mazelas, tudo é encoberto e atenuado por um mundo/situação
fictício. De forma tal, que a ficção se justapõe com o mundo real.
“Em busca de um final feliz”, Katherine Boo, rompe com a
contrapartida entre ficção e realidade, seu relato é antes de tudo a própria
descrição da existência, e, certamente, é por isso que todos os efeitos que a
ficção é capaz de nos incutir, na não ficção esses fatores alçam um patamar
diferente.
As narrativas que discorrem sobre a Índia, não raro, são
permeadas pela descrição rica e cuidadosa do espaço em questão. A desigualdade,
o crescimento econômico, o ressurgimento de um novo cenário são lugar-comum.
Boo apresenta sobre os auspícios desse mesmo cenário a imagem de uma Índia com
matizes diversas, entre as quais uma pérfida e fortemente dramática se avoluma.
Em seu relato - com caráter crônico - a autora apresenta a
seu leitor a favela indiana de Annawabi, localizada nas proximidades do
Aeroporto Internacional de Mumbai, nesta cidade que é a capital financeira da
Índia e uma das maiores cidades do mundo.
Annawabi é uma favela surgida nas esteiras do crescimento de
Mumbai. Os investimentos, o progresso pujante, e daí as possíveis oportunidades
de trabalho são a causa do surgimento de Annawabi, e outras
favelas mais.
“- Tudo ao nosso redor são rosas. – Era como o irmão caçula de Abdul, Mirchi, colocava as coisas. – E nós somos a bosta no meio disso.” p. 16
Esse cenário se estabelece em um contraste marcante pela
opulência da grande cidade, em confronto com as condições sub-humanas de
Annawabi. Este precário conjunto habitacional é preenchido por uma alegoria de
diferentes personagens, e das diferentes formas como se comportam e a
constância da pobreza – da miséria – em suas vidas. Somos apresentados a Abdul,
o jovem mulçumano que provê a família com o que obtém com o lixo; Manju, a
universitária que deseja se tornar professora; Asha, sua mãe, uma mulher
preenchida por uma ambição egoísta e pérfida; Fátima, a perna só, uma mulher
julgada e discriminada pela sua deficiência, encontra na traição e no sexo seu
momento de realização. Estes são apenas alguns dos muitos atores que fazem
parte de uma nuance pouco louvável do crescimento (excludente), e como este pode ocorrer no
mundo da globalização.
O trunfo de Boo se sustenta pela inegável capacidade que ela
teve de imprimir seu relato não ficcional em uma modelo adotado pela ficção. A
narrativa parece ao leitor, a priori, a descrição de uma história como outras
que são encontradas em vários livros. Mas a questão vai além, trata-se de um
relato sensível de uma realidade, em todos os sentidos, triste e injusta. Em um
contexto - e ai prevalece novamente à acuidade da autora – no qual ser pobre, e
a própria pobreza, age no sentido de manter cada vez mais débil a situação
vigente. Soma-se a isso um ordenamento legal e jurídico, desprovido de qualquer
equidade, e permeado pela corrupção, de tal maneira que como observou Asha:
“corrupção, tudo é corrupção.”
“Entre os pobres não havia dúvidas de que a instabilidade favorecesse o talento, mas, com o passar do tempo, a falta de um elo entre o esforço e resultado torna-se debilitante.” p. 251
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annawadi - curatormagazine |
Evellyn · 724 semanas atrás
E tb tem um filme que quero ver ^^
bjs
Juan Warley 71p · 724 semanas atrás
Kate · 724 semanas atrás
http://conversandocomdragoes.blogspot.com/
Lara · 724 semanas atrás
Juan Warley 71p · 724 semanas atrás
vanessa · 724 semanas atrás
Poxa que bacana suas novas aquisições, gostei. Sou louca pra ler esses livros da série Amanhã, parecem ser bons. Boa leitura e vou aguardar as resenhas (:
Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing
Regiane 55p · 723 semanas atrás
Beijinhos
Rê
Ler e Almejar