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terça-feira, 4 de junho de 2013

Em busca de um final feliz (Katherine Boo)

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Livro: Em busca de um final feliz
Autor: Katherine Boo
Nº de páginas: 288
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: -
Nota: 4/5









As histórias de ficção muitas vezes apresentam elementos da realidade, agregam em seu íntimo personagens, lugares e situações parafraseados. E, por mais verossímeis que sejam seus personagens, suas realizações e mazelas, tudo é encoberto e atenuado por um mundo/situação fictício. De forma tal, que a ficção se justapõe com o mundo real.

“Em busca de um final feliz”, Katherine Boo, rompe com a contrapartida entre ficção e realidade, seu relato é antes de tudo a própria descrição da existência, e, certamente, é por isso que todos os efeitos que a ficção é capaz de nos incutir, na não ficção esses fatores alçam um patamar diferente.

As narrativas que discorrem sobre a Índia, não raro, são permeadas pela descrição rica e cuidadosa do espaço em questão. A desigualdade, o crescimento econômico, o ressurgimento de um novo cenário são lugar-comum. Boo apresenta sobre os auspícios desse mesmo cenário a imagem de uma Índia com matizes diversas, entre as quais uma pérfida e fortemente dramática se avoluma.

Em seu relato - com caráter crônico - a autora apresenta a seu leitor a favela indiana de Annawabi, localizada nas proximidades do Aeroporto Internacional de Mumbai, nesta cidade que é a capital financeira da Índia e uma das maiores cidades do mundo.

Annawabi é uma favela surgida nas esteiras do crescimento de Mumbai. Os investimentos, o progresso pujante, e daí as possíveis oportunidades de trabalho são a causa do surgimento de Annawabi, e outras favelas mais.
“- Tudo ao nosso redor são rosas. – Era como o irmão caçula de Abdul, Mirchi, colocava as coisas. – E nós somos a bosta no meio disso.” p. 16
Esse cenário se estabelece em um contraste marcante pela opulência da grande cidade, em confronto com as condições sub-humanas de Annawabi. Este precário conjunto habitacional é preenchido por uma alegoria de diferentes personagens, e das diferentes formas como se comportam e a constância da pobreza – da miséria – em suas vidas. Somos apresentados a Abdul, o jovem mulçumano que provê a família com o que obtém com o lixo; Manju, a universitária que deseja se tornar professora; Asha, sua mãe, uma mulher preenchida por uma ambição egoísta e pérfida; Fátima, a perna só, uma mulher julgada e discriminada pela sua deficiência, encontra na traição e no sexo seu momento de realização. Estes são apenas alguns dos muitos atores que fazem parte de uma nuance pouco louvável do crescimento (excludente), e como este pode ocorrer no mundo da globalização.

O trunfo de Boo se sustenta pela inegável capacidade que ela teve de imprimir seu relato não ficcional em uma modelo adotado pela ficção. A narrativa parece ao leitor, a priori, a descrição de uma história como outras que são encontradas em vários livros. Mas a questão vai além, trata-se de um relato sensível de uma realidade, em todos os sentidos, triste e injusta. Em um contexto - e ai prevalece novamente à acuidade da autora – no qual ser pobre, e a própria pobreza, age no sentido de manter cada vez mais débil a situação vigente. Soma-se a isso um ordenamento legal e jurídico, desprovido de qualquer equidade, e permeado pela corrupção, de tal maneira que como observou Asha: “corrupção, tudo é corrupção.”
“Entre os pobres não havia dúvidas de que a instabilidade favorecesse o talento, mas, com o passar do tempo, a falta de um elo entre o esforço e resultado torna-se debilitante.” p. 251

annawadi - curatormagazine



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