Livro: Lincoln
Autor: Doris Kearns Goodwin
Nº de páginas: 322
Editora: Record
Série/Saga: -
Nota: 5/5
É impossível falar de Lincoln, o livro, sem citar Lincoln, o
filme, afinal, foi graças à adaptação cinematográfica que o livro foi lançado
no Brasil.
Primeiro assisti o filme, e tenho que admitir que ele foi
merecedor de cada uma de suas 12 indicações ao Oscar, em especial, a de melhor
ator, com atuação impecável de Daniel Day-Lewis, como Lincoln.
Mas vale uma pequena anedota, ambos, o filme e o livro, são
de grande qualidade, mas não devem ser comparados, os objetivos foram
diferentes; enquanto o filme dá ênfase à aprovação da 13º emenda, que aboliu a
escravidão, e foca no presidente. O livro faz isso, mas ultrapassa esse
acontecimento, abarcando desde o processo da pré-candidatura ao fim trágico da
vida do presidente, dando também mais espaço para a “família política” de
Lincoln.
Terminada essa nota introdutória, agora focando apenas no
livro, é preciso dizer que Doris Goodwin fez um trabalho primoroso. Lincoln, o
livro, é uma biografia, mas também é um livro que transcende o elemento
individual para dar eco a um cenário mais amplo e caótico.
Para tanto, começamos com o processo de indicação de Abraham
Lincoln como candidato do partido republicano a presidência da república. Contudo,
a efetividade da indicação parecia ser uma possibilidade irrisória. O opaco e
desajeitado advogado interiorano estava competindo com figuras, que com facilidade
ofuscariam sua imagem. Seward, Chase e Bates. Todos os três figuras políticas proeminentes.
Mas, para surpresa geral, em meio ao embate dos três
possíveis candidatos, Lincoln alcança a indicação. Esse era o passo para que em
seguida, em 1860, fosse eleito o 16º presidente dos EUA.
No entanto, não seria um mandato fácil, antes mesmo de
assumir a presidência os Estados Unidos estavam em crise e o início do processo
de secessão havia iniciado. Logo nos primeiros meses de mandado irrompe a
guerra civil americana.
Para passar pelos anos árduos que se seguiriam, Lincoln
escolheu uma família política formada por homens que poderiam suplantá-lo. Mas,
ele teve a sagacidade de formar um gabinete heterogêneo e formado pelos homens
que competiram com ele pela indicação à presidência. Esse seria apenas o começo de um processo que tornaria, entre
outros, o presidente famoso; a capacidade quase inata de converter inimigos
em amigos.
Durante todo o seu mandado ele enfrentou desafios dos quais
outros homens teriam declinado, desde crises políticas, a dramas familiares, e
tudo isso endossado por uma guerra civil em pleno vigor. Guerra essa que marcou um dano
humano na população americana que nem mesmo as 2 guerras mundiais seriam
capazes de igualar.
O trabalho de Doris Goodwin foi primeiramente facilitado
pela grandeza do homem que ela se propôs a tratar, e não bastasse isso ela fez seu trabalho com
um esmero observável. O que logo fica claro para o leitor é o cuidado que a
autora desprendeu com a pesquisa, o livro é todo preenchido por citações
diretas, e sempre pertinentes, dos acontecimentos e figuras da época. Soma-se a
isso uma escrita bem feita, em consonância com uma narrativa muito bem
conduzida. A emoção que muitas vezes circundou os grandes acontecimentos é
exposta ao leitor com um cuidado narrativo dos detalhes, que é quase palpável a
aura do momento; em especial, o final trágico.
É preciso dizer que o livro não foi lançado integralmente no Brasil, a editora ofereceu apenas uma versão condensada, bem limitada em relação a americana, que excede as 900 páginas. Quanto a isso, só resta ao leitor lamentar.
É preciso dizer que o livro não foi lançado integralmente no Brasil, a editora ofereceu apenas uma versão condensada, bem limitada em relação a americana, que excede as 900 páginas. Quanto a isso, só resta ao leitor lamentar.
Quanto a Lincoln, o homem, a autora o apresenta em toda a sua
vulnerabilidade e magnificência, pintando o quadro de um homem grandioso,
benevolente, inteligente e de uma percepção e hombridade raras. Mesmo
que seja passível de algum viés, há que se considerar a grandeza do homem. E, por
fim, a descrição de Lincoln sobre a ótica de outro grande homem, Leon Tolstói:
“Ora, por que Lincoln foi tão grande a ponto de suplantar todos os outros heróis nacionais? Na realidade, ele não foi um grande general, como Napoleão ou Washington; não foi um estadista tão hábil, como Gladstone ou Frederico, O Grande; mas sua supremacia se expressa totalmente em sua singular força moral e na grandeza de seu caráter.” (Leon Tolstói)
"Lincoln" é um livro que merce ser lido.