Livro: Os Doze
Autor: Justin Cronin
Nº de páginas: 592
Editora: Arqueiro
Série/Saga: Trilogia
A Passagem - 2
Nota: 4,5/5
“ E aconteceu que o mundo tinha ficado maligno, os homens tomaram a guerra no coração e cometeram grandes vilanias com todas as coisas vivas, de modo que o mundo era um sonho de morte.”
Aguardei com grande expectativa pela oportunidade de ler Os
Doze. Em A Passagem, primeiro livro da trilogia, somos apresentados a um
cenário que segue um caminho desolador. A ambição humana, a busca desenfreada
por poder, legou a humanidade um horizonte escuro e permeado de tragédias. O
projeto Noé, que tinha por objetivo criar um super soldado malogrou e acabou
nutrindo as cobaias de um poder destrutivo que dizimou grande parte da
população americana. Os Doze, a criação destruidora. Até que a jovem Amy Harper Bellafonte desponta como um
resquício de esperança e talvez salvação.
Em Os Doze, Justin Cronin, retoma a paisagem supracitada.
Novos personagens se somam e mostram suas histórias e desafios diante de um
mundo que cada vez mais mergulha na desolação e destruição. Em um momento em
que os humanos parecem ser incapazes de lidar com a situação vigente, uma
ambivalência de sentimentos e manifestações egoístas e benevolentes se faz
presente.
Diante da catástrofe alguns indivíduos ainda estão
suficientemente concentrados em pensar única e exclusivamente em sua salvação.
E para tanto estão dispostos a fazer aliança com quaisquer que sejam as forças
que satisfaçam seus objetivos.
“Todos vamos morrer, neném. É justo. Porém alguns mais do que outros.”
Nessa mesma narrativa, que leva o leitor ao passado e ao
presente reencontramos personagens conhecidos do primeiro livro, como: Amy,
Peter, Sara, Alicia, Hollis, Michael e Gray. Entre os novos conhecemos a
destemperada Lila, uma mulher que se trancou em um mundo particular se furtando
de enfrentar a realidade.
Os desafios dos personagens vão ficando a cada momento mais
difíceis, desde a destruição da primeira colônia os humanos ainda tentam, na
medida do possível, se resguardar em fortificações, mas forças perigosas estão
dispostas a frustrar esses esforços. E Zero, os Doze e seus muitos caminham sobre a terra perpetuando a desolação.
Amy continua a garotinha misteriosa e sensitiva que conhecemos no primeiro livro. A habitante mais antiga da
colônia, conhecedora de eventos dos quais muitos não sobreviveram para contar. Alicia Donadio ressurge imbuída de uma
força e desejo de vingança vigorosos. Peter agora membro do exército tem sido
limitado por ordens que lhe são impostas, mas permanece aferrado a seus
princípios. Os personagens são muitos, a
alegoria que Cronin nos apresenta é diversa e interessante.
Justin Cronin é um
narrador descritivo e cuidadoso, durante toda a extensão do livro ele traça sua
narrativa com a minuciosidade dos detalhes, o leitor tem um panorama ricamente
descrito pelo autor. Essa característica pode ser em alguns casos ambígua, pois
na mesma medida em que permite uma visualização mais clara, se aproxima
perigosamente da barreira da digressão.
Dando continuidade ao que foi executado em A Passagem, o
autor nutre esse livro de uma complexidade psicológica atraente. Os personagens
e os próprios acontecimentos em si são tecidos de forma tal que cada um tem
suas particularidades e relevância. O teor psicológico nesse livro parece ainda
mais acentuado, uma vez que a ficção científica cede mais espaço ao sobrenatural
e seu caráter premonitório. A oposição entre o bem e o mal, a revelação de uma
humanidade que ao mesmo tempo em que recorre aos ritos mais execráveis de
realização, é suficientemente capaz de ser altruísta e lutar pela
sobrevivência.
“Além disso, o silêncio era diferente: não era uma simples ausência de som, e sim algo mais profundo, mais agourento. Muitos corpos que ele via estavam sem cabeça, como o homem suspenso no Red Roof. Grey achou que Zero e os outros talvez gostassem de arrancar cabeças.”
As criaturas, os muitos, ou simplesmente vampiros, que
Justin criou se destacam pela particularidade de sua violência, não há aqui a
sutileza da mordida de dois pontos no pescoço, frequentemente, a vítima é destroçada.
A violência perpetrada pelos seres humanos não chega a ser menos desagradável.
Portanto, ficam de sobreaviso os leitores que porventura tenham problemas com
esse tipo de cena.
A longa leitura de Os Doze se mostra ao final uma
experiência prazerosa. Em especial pelo ritmo que o livro vai ganhando com o
decorrer da trama, e o final cheio de expectativas. Resta agora aguardar ao
lançamento do desfecho da trilogia, que tem previsão de lançamento, no exterior,
para 2014.