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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Começo do Adeus (Anne Tyler)

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Livro: O Começo do Adeus
Autor: Anne Tyler
Nº de páginas: 208
Editora: Novo Conceito
Série/Saga:  -
Nota: 4/5









Sabe aquele tipo de livro que, você escolhe aleatoriamente para ler sem ter qualquer expectativa positiva em relação à leitura? Pois é, foi exatamente essa a minha situação com “O Começo do Adeus”. Contudo, para minha satisfação eu me vi surpreendido pela obra. 

Logo que comecei a ler o livro toda à resistência que poderia ter havido foi varrida, me vi cada vez mais interessado pela história, ou melhor, pelos relatos do personagem que nos conta sua jornada, Aaron.

Aaron é um homem de meia idade, trabalha na editora da família e de de súbito se vê viúvo. A partir desse trágico episódio observamos a ocorrência de um evento nem um pouco natural na vida de Aaron, Dorothy, sua falecida esposa, passa a aparecer para ele. Mas, o que poderia dar espaço a uma história sobrenatural, toma um rumo bem diferente, acompanhamos o personagem em suas reminiscências, ele passa a contar a história de seu casamento, da sua vida. 

É nesse ponto que entra a habilidade de Anne Tyler como escritora. Para realizar a missão que Aaron se propõe a fazer ela criou um personagem diferente. Aaron é um homem amargo, desajustado socialmente, com uma deficiência que lhe dificulta a locomoção o obrigando a usar uma bengala, que ele resiste em utilizar. Não bastasse isso teve, e ainda tem, uma série de questões familiares que o perturbaram, o protecionismo por parte da mãe, já falecida, e de sua única irmã, Nandida, o sufocam, contribuindo sobremaneira para seu comportamento intempestivo.

Mas, apesar dessas condições, Aaron é um ser humano como outro qualquer, cheio de defeitos, mas também qualidades, um personagem humano em vários sentidos.

A narrativa em primeira pessoa, e a escrita ao mesmo tempo sincera e cativante de Tyler, foram elementos essenciais para exposição de uma questão que o livro trata, como lidar com as perdas. No caso de Aaron ele não teve um casamento aparentemente dos mais felizes, pelo contrário, foi um relacionamento pontuado por discussões que se originavam de questões triviais e que poderiam ter sido facilmente solucionados. A forma como o personagem nos expõe isso faz toda a diferente, ele narra sua história de forma clara, apresentando os detalhes relevantes, sem contudo pormenorizar.

Anne Tyler permite que Aaron transmita sua mensagem de uma forma que chama a atenção do leitor, primeiro pela humanidade do personagem, segundo pela qualidade e facilidade da escrita. Tyler nos fala de perda, ou de como lidar com uma questão de tamanha complexidade, de uma maneira simples, leva o leitor a refletir sem que para isso necessite nutrir o texto de uma linguagem ou narrativa complexa.

Mas, apesar de tudo é um livro que talvez não chegue a agradar alguns leitores, em especial pelo seu caráter mais, digamos, soturno, e pela narrativa cômoda.

No entanto, devo afirmar que Anne Tyler foi uma feliz surpresa, Aaron um personagem humano, uma figura memorável. 



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Filha da Minha Mãe e Eu (Maria Fernanda Guerreiro)

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Livro: A Filha da Minha Mãe e Eu
Autor: Maria Fernanda Guerreiro
Nº de páginas: 272
Editora: Novo Conceito
Série/Saga:  -
Nota: 3/5
Skoob










Mariana descobre que está grávida, mas diante dessa novidade ela se vê obrigada a fazer um retrocesso a seu passado, e reviver a relação conturbada com sua mãe, Helena. A partir desse ponto a história retorna a infância de Mariana, e então passamos a acompanhar sua história, mas muito mais do que uma relação entre mãe e filha, ela revê sua história familiar agregando todos os atores nesse processo.

Helena sempre foi uma mulher muito dura, uma leoa para defender os filhos, Mariana e Guga, mas rígida. Para Mariana esta não era uma situação simples, ela e seu irmão estavam acostumados à posição da mãe, contudo para Mariana a relação era muito mais difícil. Helena é o tipo de mãe que acima de tudo tem apreço pela hierarquia entre mãe e filha, o que impede que se desenvolva uma relação de amizade entre as duas. O distanciamento da mãe acaba por contribuir para que Mariana se aproxime mais do pai.

Outra questão que perturba Mariana é o tratamento diferente que sua mãe dá a seu irmão. Mesmo rígida, quando se tratava de Guga, Helena era menos severa, já no caso de Mariana ela não hesitava em castigá-la.

Uma relação difícil, conturbada, conflitante se instaura entre mãe e filha, mas Helena é uma boa mãe, não pensa duas vezes quando tem que defender seus filhos, mas sua posição de distanciamento dificulta o relacionamento com a filha.

O leitor é levado a acompanhar essa relação até onde as memórias de Mariana alcançam. Maria Fernanda Guerreiro criou um drama interessante, uma história verossímil, que pode ria muito bem evidenciar a relação familiar de muitos lares brasileiros.

Como eu disse anteriormente, muito mais que a relação entre Mariana e Helena, a obra vai mais além e trata de uma série de problemas familiares. O relacionamento entre país e filhos, entre irmãos e as mudanças com o decorrer do tempo, na infância, e em especial, na adolescência. 

A narrativa é leve, sem complicação, o que torna a obra uma leitura fácil. Os personagens são bem arquitetados o leitor pode se ver alçado para dentro da obra dada a humanidade dos personagens.

Se o que você busca é romance, talvez esse livro não seja o mais indicado. Guerreiro procura evidenciar dramas familiares, não que o romance não esteja presente, mas a carga dramática prevalesse.

Uma história de fácil leitura e que pode espelhar o drama de muitas famílias brasileiras, faz com que “A Filha da Minha Mãe e Eu” se constitua de uma leitura interessante.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Garotas de Vidro (Laurie Halse Anderson)

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Livro: Garotas de Vidro
Autor: Laurie Halse Anderson
Nº de páginas: 272
Editora: Novo Conceito
Série/Saga:  -
Nota: 4/5









Garotas de Vidro é um livro que me chamou a atenção pela capa, mas eu não esperava muito da história, na verdade, não sabia bem o que esperar. Mas, felizmente, foi uma leitura que me surpreendeu.

Lia é uma garota de 17 anos que tem problemas com comida, ela sofre de um distúrbio alimentar, ela tem anorexia.

A notícia de que sua amiga Cassie, faleceu de forma misteriosa em um quarto de hotel, faz com que sua situação não melhore nem um pouco.

A relação entre as duas estava balançada há um tempo, elas não estavam se falando, o que não eliminou uma amizade de anos. E para agravar a situação Lia recebeu 32 ligações de Cassie no dia da morte, a expectativa sobre o que Cassie poderia estar querendo é algo que tem um peso enorme sobre as costar de Lia.

A morte de Cassie suscita preocupações nos pais de Lia, eles têm conhecimento do seu problema com alimentação, e sabem que a notícia pode desencadear uma piora no quadro já débil da jovem.

Lia já passou por duas temporadas em uma clínica, e agora ela tem que conviver com o Pai e a madrasta, já que a relação com a mãe chegou a tal ponto que não é possível que as duas possam conversar sem discutir.

Mas ela tem que seguir algumas regras na casa do pai, como se pesar todas as semanas e impedir que o peso caia a um nível de perigo. Mas é ai que mora um grande problema, para Lia ela nunca pesa pouco o bastante.

Laurie criou uma história diferente, mas ao mesmo tempo interessante, e o mais importante ,que toca em um assunto que merece atenção. Distúrbios alimentares dessa ordem é um problema que tem que ser tratado com cuidado, e ver o tema ser levado para um livro de ficção que poderia ser uma história real faz de Garotas de Vidro uma trama inteligente.

Pego o copo da mão dela. Minha garganta quer suco meu cérebro quer suco meu sangue quer suco Minha mão não quer minha boca não quer. 

Lia perdeu o controle sobre seu próprio corpo, sua relação com a mãe, uma médica respeitada que se dedica com afinco ao trabalho é desgastada. O pai é um professor de História e escritor importante, ele não é um homem que tem muito tempo para a família. As pessoas que estão mais presentes em sua vida diariamente são sua madrasta e sua “irmã” postiça, que é a única pessoa com a qual Lia se importa realmente.

A leitura desse livro foi para mim em alguns momentos angustiante, a autora conseguiu imprimir com muito sucesso a relação que Lia tem com a comida e a forma como ele resiste a qualquer alimento que possa permitir que ela ganhe peso, e a mantença de uma dieta rígida e que é um risco a sua vida.

Cinco dias atrás eu estava pesando 45,94 quilos. Precisei comer no jantar de ação de graças (todos os abutres ao redor da mesa), mas desde então tem sido água e barrinhas d flocos de arroz. Estou com tanta fome que poderia arrancar minha mão direita com os dentes.

A autoflagelação e as restrições autoimpostas são constantes na leitura, bem como a luta dos familiares em busca de uma tomada de vida normal por parte de Lia.

O mistério que circunda a morte de Cassie, as 32 ligações que ela não atendeu e o problema alimentar são constantes na vida de Lia.

Garotas de Vidro não é uma história romântica, nem um suspense, drama é o gênero que  comporta esse livro. É uma leitura interessante, com um tema que demanda atenção, com uma trama bem conduzida pela autora, e um final mais que satisfatório. Leitura indicada!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Cruzando o Caminho do Sol (Corban Addison)

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Livro: Cruzando o Caminho do Sol
Autor: Corban Addison
Nº de páginas: 448
Editora: Novo Conceito
Série/Saga:  -
Nota: 5/5


Cruzando o Caminho do Sol é o livro de estreia de Corban Addison, e posso dizer que sem dúvidas ele teve um início primoroso. Tratando de um tema dos mais complexos – o tráfico humano – que mesmo sendo bem denso acabou por ser muito bem encaixado nessa história que deliberadamente arrebata o leitor.

Vamos conhecer um pouco mais da história...

A família Ghai tem uma posição de destaque na sociedade indiana, da casta dos comerciantes eles têm uma vida estável e as duas irmãs Ahalya, de 17 anos, e Sita de 15, fluentes na língua inglesa, tem um futuro dos mais brilhantes pela frente.

Mas tudo muda quando um tsunami ataca à costa da Índia, morada dos Ghai, e acaba por levar a maior parte da família Ghai, vitimando os pais a avó e a empregada das às jovens e indefesas Ahalya e Sita. Sozinhas em uma cidade devastada pelo tsunami elas terão de encontrar alguém que possa ajudá-las a chegar ao colégio onde elas estudavam, mas nessa jornada pessoas com objetivos dos mais escusos estão no caminho.

Nos EUA conhecemos Thomas Clarke, um jovem advogado, que tem um emprego em uma grande firma de advocacia e com um futuro promissor, contudo ele tem passado por dificuldades em sua vida pessoal, recém-abandonado pela esposa, que partiu para seu país de origem, a Índia, e com alguns problemas na empresa, ele acaba decidindo ir atrás de sua esposa, e decide aceitar da empresa a oportunidade de passar 1 ano sabático na Índia, onde ele decidiu trabalhar em uma ONG, a Aces, que combate o tráfico humano em Mumbai. Essa viagem irá lhe descortinar novos horizontes.

Dois episódios, dois continentes, duas história, inicialmente, sem nenhuma ligação, mas que irão se entrelaçar de uma forma brilhante, Corban faz uma concatenação desses fatos de forma surpreendente, o envolvimento dos personagens, e os rumos que a trama vai tomando, torna a leitura mais que agradável.

O autor arquitetou uma trama das mais atraentes, uma temática forte, mas que infelizmente faz parte da realidade, e ele aborda esse tema da forma mais impressionante, ele dá alma aos personagens.

E os personagens são um dos pontos altos da obra, é impossível não se envolver, não torcer, não se relacionar com eles.

Ahalya e Sita são duas jovens guerreiras, passando por situações que são muito mais que desafiadoras, as garotas são possuidoras de uma fé impressionante, não há como conhecer essas jovens lutadoras e não se afeiçoar a elas.

Thomas Clarke é um advogado que tem a sombra de um pai que é um poderoso juíz, um homem sério e importante, que chegou num dos pontos mais altos que a carreira pode levar, e espera o mesmo do filho. Mas Thomas ainda não tem certeza do que ele realmente deseja, e sua viagem à Índia, inaugurará um novo episódio na sua vida.

Outro ponto que vem corroborar a qualidade desse livro foi à pesquisa realizada pelo autor, muito do que vemos narrado aqui ele pode presenciar na viagem que ele fez as zonas de tráfico da grande Mumbai.

Tenho que admitir que poucas vezes uma obra foi capaz de suscitar sentimentos tão intensos como ódio, revolta, ultraje, entre outros,  quanto os que eu senti na leitura desse livro, a trama vai além do envolvente, a relação que o leitor tem com os personagens é das mais íntimas, uma obra excelente.

Uma história que se passa em 3 continentes diferentes, personagens envolventes e cativantes, uma narrativa detalhada, cuidadosa e um tema que suscita atenção, fazem de “Cruzando o Caminho do Sol” uma obra imperdível.