Autor: Franck Thilliez
Nº de páginas: 368
Editora: Intrínseca
Série/Saga: Frank
Sharko 3
Nota: 4,5/5
“O equilíbrio de um policial é muito frágil. É como uma casa de noz que se abre gradualmente, a golpes de perseguições e cenas de crime.” p. 166
É
notável o que se pode fazer com um romance policial. Os autores têm diante de
si uma enormidade de universos para serem explorados, e em cada um destes há
inumeráveis possibilidades. Mas nem todos os autores conseguem explorar tramas
mais complexas, que adentram cenários inusitados. Certamente, este não é o caso
de A síndrome [E], pelo contrário.
A
tenente da polícia judiciária Lucie Henebelle recebe uma súbita ligação de um
ex-namorado dizendo estar cego após assistir um curta metragem. Do outro lado
da França, cinco corpos mutilados, sem o cérebro, os olhos e demais partes, são
desvendados acidentalmente em uma escavação. O comissário Franck Sharko é
requisitado para acompanhar as investigações.
Dois
casos aparentemente sem qualquer conexão, separados por quilômetros. Mas
Henebelle a pedido de seu ex resolve assistir o mesmo filme, e descobre estar
diante de algo aterrador. Um filme que só poderia ter sido concebido por uma
mente perturbada e doentia. Na tentativa de desvendar o rastro do filme a jovem
tenente acaba entrando em contato com um misterioso informante canadense que
sugere uma ligação entre os corpos mutilados e o curta-metragem. Com essa
descoberta os caminhos de Sharko e Henebelle se encontram.
“[...] Matar a sangue-frio não é um ato fácil. É preciso controlar suas pulsões, combater o que a sociedade, a religião e a consciência proíbem. Recalcar os próprios fundamentos do espírito humano. Mas eles tinham eliminado, retirado os olhos e estripado um homem [...] Que tipo de desajustado escondia-se por trás daquele crime? Qual sua motivação para transgredir os limites àquele ponto?” p. 103
Apesar
da possível ligação as evidencias indicam um caminho difícil. O curta-metragem
foi gravado a mais de 50 anos, os crimes ocorreram recentemente, e excluída a
pista apontada pelo incógnito canadense, nada liga os dois acontecimentos.
Mesmo assim os dois investigadores exploram o que eles têm a mão, e quando o
filme começa a demonstrar um rastro de assassinatos cruéis, uma busca mais
intensa se põe em movimento. Com isso, os investigadores se lançarão em
diferentes continentes perseguindo pistas obscuras e, por vezes, perigosas. Até
se verem diante da Síndrome [E], algo que parece convergir com a mais profunda
obscuridade humana.
Frank
Sharko é um policial experiente, na casa dos 50, que sofre de esquizofrenia. E
apesar da doença não conseguiu se manter longe da profissão. Talvez porque não
lhe reste mais nada. A profissão lhe sugou tudo, a vida e a família. Um homem
que há muito cedeu, viu-se lançado em um poço que não sabe se conseguirá
emergir. Apesar de tudo, ainda é um homem inteligente, que não respeita as regras e resolve
seus casos.
Já
Lucie Henebelle está em ascensão, é uma boa policial, ainda que sua tendência a
insubordinação não tenha passado indelével. Mãe de duas meninas, e sem um
companheiro, ela se vê cada vez mais afastada da família e consumida pela
profissão; que parece enredá-la de forma irresistível.
O
mistério a ser desvendado é construído de tal forma a sugar o leitor. Não
apenas por se tratar de algo de difícil resolução - que obrigatoriamente tem de
ser - mas também por ser atraente ao leitor. Os detalhes, a condução e os
segredos que se encontram por trás da película conduzem o leitor de forma
interessada durante todo o livro.
Inteligente.
Inventivo. Complexo. São palavras que se adéquam ao excelente trabalho de Frank
Thilliez. O autor concebe um livro que vale a pena ser lido.