Livro: Cândido, ou o Otimismo
Autor: Voltaire
Nº de páginas: 207
Editora: Penguin-Companhia
Série/Saga: -
Nota: 5/5
“[...] mas, é preciso cultivar o nosso jardim.”
François-Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido pelo
pseudônimo de Voltaire. As contribuições literárias e filosóficas deste
distinto autor marcam a produção literária no século XVIII. “Cândido, ou o
Otimismo” é um dos grandes sucessos de Voltaire, construindo um conto filosófico
de rara espirituosidade.
Na história, somos apresentados a Cândido, residente
no baronato de Thunder-ten-tronckh, onde também habitam a deslumbrante
Cunegunda, e Pangloss, o maior filósofo de todos, segundo a visão de
Cândido.
Cândido nutre uma atenção, e uma grande paixão, pela
jovem e atraente Cunegunda, por Pangloss, ele tem enorme respeito, dada a
intectualidade do mesmo. Contudo, toda essa felicidade é abalada no dia
em que Cândido é expulso do castelo a pontapés. A partir de então, uma sucessão
de infortúnios se abate sobre essa afável figura e alguns de seus
acompanhantes.
Ainda assim, apesar de toda sortidão de desfavores e
tragédias, ele guarda consigo o maior ensinamento do mestre Pangloss, de que
tudo está o melhor. E mesmo após ser expulso, traído, espancado, preso, e
demais desgraças ele continua aferrado a seu princípio; o Otimismo é seu
esteio.
Em seu caminho ele encontrará companheiros, como o
filósofo Martinho, não tão indulgente com o Otimismo, assumindo uma visão mais
severa e cética neste sentido. Os demais, tanto quanto este, avolumam-se em sua
jornada para compartilhar, quando não confrontar, qual dele é o possuidor do
maior currículo de desgraças acumuladas.
É contra o Otimismo, e o princípio de que tudo está o
melhor, que Voltaire se levanta. “Cândido, ou o Otimismo” é uma sátira que tem
como objetivo criticar o princípio do Otimismo, pregado por Liebniz anos antes.
Nas palavras do próprio Cândido: "O que é otimismo? é a fúria de
sustentar que tudo está bem quando se está mal." p. 83
O determinismo ai presente é fonte durante todo o
livro da existência desse Otimismo imorredouro, e além, Voltaire o põe a prova
e demonstra que não parece haver, ainda, uma condição de que “tudo está o
melhor”, bem como da passividade e da aceitação que ai se encerra. E nesse
ponto, sua crítica transcende a oposição à visão filosófica de Liebniz e recaí
a sobre sociedade (religião, escravidão, literatura...), que passa também a ser
fonte de suas observações cortantes.
Apesar da possível resistência do leitor devido ao
caráter filosófico da obra, para se comprazer com o livro não é necessário
encontrar artifícios filosóficos de compreensão. Há na obra de Voltaire -
talvez pela desenvoltura da escrita, pela celeridade, o bom humor e o escárnio
ressaltado - uma dupla utilidade: a primeira, oferecer aos leitores de forma
geral uma oportunidade de uma leitura breve e divertida; e segundo, aos que
procuram maior profundidade, uma discussão de inestimável relevância sobre o
homem, e o Otimismo. Para ambos os objetivos, o exercício de leitura pode ser
acrescido da introdução e análise de entendedores da produção voltariana,
contidos no livro. Um trabalho cuidadoso da Penguin-Companhia.
Ao fim, “Cândido, ou O Otimismo” é um livro cômico, profundo em sua brevidade e constituído de observações afiadas.
“Acreditais”, disse Cândido, “que os homens tenham sempre se massacrado naturalmente, como fazem hoje? Que tenham sido sempre mentirosos, enganadores, pérfidos, ingratos, bandidos, fracos, volúveis, covardes, enfadonhos, gulosos, beberrões, avaros, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e tolos? “Acreditais”, disse Martinho, “ que os gaviões sempre comeram pombas quando as encontraram?” “Acredito, sem dúvida”, disse Cândido. “Pois bem”, disse Martinho, “os gaviões sempre tiveram a mesma índole, por que quereis que os homens tenham mudado a deles? Oh!”, disse Cândido, “existe muita diferença, pois o livre-arbítrio...” p. 91