Livro: O
Começo do Adeus
Autor: Anne
Tyler
Nº de páginas: 208
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: -
Nota: 4/5
Sabe
aquele tipo de livro que, você escolhe aleatoriamente para ler
sem ter qualquer expectativa positiva em relação à leitura? Pois é, foi
exatamente essa a minha situação com “O Começo do Adeus”. Contudo, para minha
satisfação eu me vi surpreendido pela obra.
Logo
que comecei a ler o livro toda à resistência que poderia ter havido foi
varrida, me vi cada vez mais interessado pela história, ou melhor, pelos
relatos do personagem que nos conta sua jornada, Aaron.
Aaron
é um homem de meia idade, trabalha na editora da família e de de súbito se vê viúvo. A
partir desse trágico episódio observamos a ocorrência de um evento nem um pouco
natural na vida de Aaron, Dorothy, sua falecida esposa, passa a aparecer para ele. Mas, o que poderia
dar espaço a uma história sobrenatural, toma um rumo bem diferente,
acompanhamos o personagem em suas reminiscências, ele passa a contar a história
de seu casamento, da sua vida.
É
nesse ponto que entra a habilidade de Anne Tyler como escritora. Para realizar
a missão que Aaron se propõe a fazer ela criou um personagem diferente. Aaron é
um homem amargo, desajustado socialmente, com uma deficiência que lhe dificulta
a locomoção o obrigando a usar uma bengala, que ele resiste em utilizar. Não
bastasse isso teve, e ainda tem, uma série de questões familiares que o
perturbaram, o protecionismo por parte da mãe, já falecida, e de sua única irmã, Nandida, o
sufocam, contribuindo sobremaneira para seu comportamento intempestivo.
Mas,
apesar dessas condições, Aaron é um ser humano como outro qualquer, cheio de
defeitos, mas também qualidades, um personagem humano em vários sentidos.
A narrativa em primeira pessoa, e a escrita ao mesmo tempo sincera e cativante de Tyler, foram elementos essenciais para exposição de uma questão que o
livro trata, como lidar com as perdas. No caso de Aaron ele não teve um
casamento aparentemente dos mais felizes, pelo contrário, foi um relacionamento
pontuado por discussões que se originavam de questões triviais e que poderiam
ter sido facilmente solucionados. A forma como o personagem nos expõe isso faz
toda a diferente, ele narra sua história de forma clara, apresentando os
detalhes relevantes, sem contudo pormenorizar.
Anne
Tyler permite que Aaron transmita sua mensagem de uma forma que chama a atenção
do leitor, primeiro pela humanidade do personagem, segundo pela qualidade e
facilidade da escrita. Tyler nos fala de perda, ou de como lidar com uma
questão de tamanha complexidade, de uma maneira simples, leva o
leitor a refletir sem que para isso necessite nutrir o texto de uma linguagem
ou narrativa complexa.
Mas,
apesar de tudo é um livro que talvez não chegue a agradar alguns leitores, em
especial pelo seu caráter mais, digamos, soturno, e pela narrativa cômoda.
No
entanto, devo afirmar que Anne Tyler foi uma feliz surpresa, Aaron um personagem
humano, uma figura memorável.