Autor: Sarah Lotz
Nº
de páginas: 400
Editora: Arqueiro
Série/Saga: -
Nota:
4/5
Quinta-Feira
negra, este é um dia que ficará para sempre gravado na memória da humanidade.
Quatro aviões caíram. Em quatro continentes diferentes, todas as aeronaves de
marcas diferentes, e nenhum dos acidentes tem uma causa identificável. Três
crianças sobreviveram. E um mulher conseguiu viver por tempo suficiente para
mandar uma mensagem:
Eles estão aqui.
O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Pastor Len, avise a eles que o menino, não é para ele...
Pamela
May Donald foi quem enviou essa mensagem por celular. E uma vez recebida, essa
mensagem irá alterar o mundo.
Não
bastante as circunstâncias misteriosas dos acidentes – eles caíram no Japão,
Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul, este foi o único que não
identificou sobreviventes – as crianças que sobreviveram saíram quase incólumes
de tragédias que não deveriam permitir nenhum sobrevivente, é um milagre. Além
disso, as crianças sobreviventes começam a apresentar comportamentos peculiares
- para não falar em perturbador. Hiro, no Japão, Jess, na Inglaterra, e, Bobby
Small, dos Estados Unidos, se veem cada vez mais cercados de atenção e
especulação.
Em
consequência dos acidentes e das sobrevivências miraculosas e, sobretudo, a
mensagem de Pamela, suscitam o pastor Len. A partir de então ele começa a
pregar que esses acidentes têm significados bíblicos, que podemos estar
próximos do fim dos tempos, o apocalipse. E o mais aterrador é que talvez as
crianças não sejam mais elas mesmas. Para além da eloquência
evangélico-apocalíptica do pastor, outros religiosos e também teorias da
conspiração ascendem para tentar explicar os acidentes e prever o que virá
depois. Muito mais que sensacionalismo midiático, a situação assume um caráter
mais sinistro e o mundo não será mais o mesmo.
É
preciso reconhecer que Sarah Lotz concebeu uma trama com pretensões
apocalípticas bastante interessante. Mas, seu maior êxito é na forma como ela
construiu a narrativa. Diferentemente do que nos habituamos a ver, a construção
de Os Três é curiosamente um livro dentro de um livro (tudo bem, isso não é tão
inédito assim), adicionalmente, e ainda mais relevante, é a disposição formal
do livro, dos capítulos. Não se trata simplesmente de uma narrativa em primeira
pessoa, mas de trabalho jornalístico – escrito por Elspeth Martins, a
jornalista - que se vale de entrevistas, depoimentos, gravações transcritas,
conversas em chats e relatórios. Esses são os capítulos do livro e nisso reside
um grande mérito de Sarah Lotz, ela sob tratar de um tema corrente – na
literatura, claro -, de maneira inovadora.
Se por um lado
essa narrativa com teor eminentemente jornalístico é uma das maiores vantagens
do livro; por outro lado ela, por sua própria natureza jornalística, mantém o
leitor mais ligado aos fatos que aos personagens.
Em seu conjunto,
Os Três é um livro de ritmo intenso. O leitor é mantido sempre no escuro, o que
nos é oferecido nos permite apenas especular. A fronteira entre as
possibilidades reais e imaginárias é bastante tênue. A forma de contar a
história fornece maior potência na geração do suspense. E, bem, o final não é o
que se poderia chamar de esclarecedor. Durante todo o livro somos mantidos nas
sombras, cheios de perguntas e dúvidas. O final, por sua vez, ao invés de
elucidar a questão, oferece na verdade mais perguntas e deixa insolúvel, ou a
solucionar o mistério dos três. Sarah Lotz deve a seus leitores respostas,
portanto, uma continuação. Espero ver o trabalho de Elspeth Martins em novo
volume. Leia e descubra Os Três.